quarta-feira, 25 de julho de 2007

Espanha veta revista ofensiva à coroa

Edição representando príncipes em ato sexual é recolhida

Internacional - Jornal O Globo - 21/07/2007

O juiz espanhol Juan del Olmo determinou ontem o recolhimento da revista "El Jueves", por considerar que sua capa contém injúrias à Coroa. A revista fazia uma crítica à decisão do governo espanhol de conceder 2.500 por gravidez a casais espanhóis e caricaturava o príncipe herdeiro, Filipe de Borbón, e sua mulher, Letizia, em pleno ato sexual, sob o título "2.500 por filho?". Na legenda, o príncipe afirma à sua mulher: "E se você ficar grávida? Isso será o mais próximo de trabalhar que chegarei em minha vida."



O juiz, que pertence à Audiência Nacional (a mais alta instância judicial para certos casos de gravidade especial.), determinou que a fiscalização recolhesse a revista das bancas e pontos de venda, inclusive na sede da publicação. A denúncia, apresentada quinta-feira pela Procuradoria, assinalava que o número 1.573 de "El Jueves" fere o artigo 409.3 do Código Penal (ofensa à Coroa), que estabelece pena de até dois anos de prisão, dependendo da gravidade da ofensa, além de multas.

— Em algum momento é necessário pôr um limite — disse uma das fontes da Justiça, acrescentando que não se trata de uma crítica política, mas de conteúdo pornográfico e escatológico.

Após o recolhimento da edição na sede da revista, Jose Luís Martín e Albert Monteys, respectivamente co-editor e diretor de "El Jueves", mostraram-se indignados.

— Nossa idéia era criticar a medida eleitoreira de Zapatero e dos 2.500 — disse Martín. — Não havia outro objetivo.

Martín assegura que o ânimo da revista é totalmente humorístico e que não pretendiam ofender. Ele disse ainda que a direção da revista assumirá perante a lei as responsabilidades do processo, em lugar dos profissionais responsáveis pela charge.

terça-feira, 24 de julho de 2007

Canção Brasileira

"A canção brasileira: vigor ou agonia?" é o tema do Encontros no Subsolo de amanhã, às 18h30m, na Leonardo da Vinci (rua Rio Branco, nº185). O debate, com entrada franca, reunirá o escritor e compositor Francisco Bosco e o jornalista e crítico de música Hugo Sukman.

quarta-feira, 4 de julho de 2007

A etnia brasileira em retratos falados no CCBB

Polícia Civil receberá as fotos de cinco mil modelos de bocas, narizes, cabelos e olhos feitas durante instalação

Eventos - Laura Antunes
Jornal O Globo - 24/06/2007

Sucesso de público, a instalação interativa "Auto-retrato falado", montada no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), na qual o visitante é convidado a fazer o próprio retrato falado, ultrapassou a esfera artística. O projeto, que usa um programa de computador — o primeiro para uso policial feito no Brasil — desenvolvido pelo economista Isnard Martins, reuniu durante a exposição um banco de dados com pelo menos cinco mil modelos de bocas, narizes, sobrancelhas, olhos, cabelos e formatos de cabeça, que será agora doado à Polícia Civil do Rio.

Projeto poderá ser levado a outros estados

Esses modelos femininos e masculinos, coletados de jovens, adultos, idosos e crianças, se transformou num rico acervo da etnia brasileira, segundo o designer Jair de Souza, autor da instalação artística. A idéia de Jair é percorrer futuramente outros estados para fotografar mais modelos de narizes, sobrancelhas, olhos...

— O banco de imagem da instalação reúne fotografias de pelo menos mil exemplares da etnia brasileira. Foram dois meses fotografando e separando em arquivos os modelos de bocas, sobrancelhas e outros itens — explica Jair.

Responsável pela confecção dos retratos falados na Polícia Civil do Rio, a Coordenadoria de Recursos Especiais (Core), além de uma equipe de policiais-desenhistas, usa um programa de computador canadense. Mas, de acordo com um policial que trabalha no setor de retrato falado da Core, o uso do software canadense tem limitações.

— O desenho feito no papel pelo policial é fundamental no resultado final porque muitas vezes os modelos arquivados no programa canadense não se encaixam à descrição feita pela vítima. Então, o desenho final costuma ser feito em papel, com o policial fazendo os ajustes necessários ao retrato falado — explica ele.

Visitantes têm 20 minutos para fazer auto-retrato

Dizem que a beleza está nos olhos de quem vê. E deve ser verdade, a julgar pelos resultados da instalação do CCBB, que termina no dia 8. Durante 20 minutos numa cabine sem espelho, o visitante faz o auto-retrato falado, diante de um acervo computadorizado com centenas de modelos de bocas, narizes, sobrancelhas, olhos e cabelos — além de marcas de expressão, barbas, cavanhaques, cicatrizes e acessórios, como, óculos e até turbantes. Alunos de artes plásticas ajudam o visitante a montar o auto-retrato. Esgotado o tempo, ele é comparado com uma fotografia do visitante (feita logo na entrada).

Diariamente, conta Jair, são montados cerca de cem retratos falados. Segundo ele, as crianças são as que mais se aproximam da aparência real. Homens e mulheres tendem a melhorar o visual e torná-lo mais rejuvenescido.

— Todo o auto-retrato é um processo de reflexão e conhecimento de si mesmo. São 20 minutos que a pessoa tem na cabine para pensar em como ela é — acrescenta o autor da instalação.

Dificuldade maior é escolher o próprio nariz

Coordenador do curso de investigação e perícia da Universidade Estácio de Sá, o professor e economista Isnard Martins disse que as pessoas têm mais facilidade de apontar o cabelo correto do que outros itens do rosto:
— As pessoas têm maior dificuldade em apontar corretamente o próprio nariz. A boca vem logo depois, em grau de dificuldade. O formato da cabeça e dos olhos são os mais fáceis, depois dos cabelos.

Na última quinta-feira, a instalação do CCBB recebeu a visita de Terezinha Moreira Sampaio, escrivã de polícia aposentada, que se tornou uma das policiais mais requisitadas para fazer retratos falados nas décadas de 80 e 90 (embora até hoje seja convidada por delegados para ajudar nas entrevistas de vítimas). Terezinha — que prefere a técnica de desenhar o retrato falado usando apenas um catálogo (também em papel) de modelos de bocas, narizes etc — reconheceu que o programa de computador pode acelerar a confecção do desenho.

— Ainda acho que a minha técnica de fazer retrato falado se aproxima mais do rosto original. Isso porque, depois que a pessoa escolhe o formato de boca, olhos e outros itens, eu faço o desenho final em papel — explica Teresinha, responsável por um dos retratos falados mais precisos de Vilma Martins, a seqüestradora do menino Pedrinho, em 1986.

E só até o próximo domingo, dia 08 de Julho. Leia mais a respeito sobre o projeto

Internauta unido jamais será vencido

Informática – Cora Rónai
Jornal O Globo - 18/06/2007

O Flickr, uma das mais populares comunidades de fotografia da web, está em polvorosa desde que a administração condenou os usuários da Alemanha, de Cingapura, Hong-Kong e Coréia a navegar única e exclusivamente pelo conteúdo considerado "seguro" - ou, em outras palavras, o conteúdo que os filtros do sistema acham adequado para menores.

O motivo para a bizarra decisão é que, ao abrir escritórios nesses países, o Yahoo!, a quem o Flickr pertence, passou a obedecer à legislação local. Se o problema ficasse restrito aos países orientais, ninguém teria sequer notado - há pouco diálogo entre aquele lado do mundo e o nosso. Mas a Alemanha não só fica logo ali, na Europa, como abriga um dos mais ativos grupos de usuários, em sua maioria fluentes em inglês e com amizades bem solidificadas ao redor do planeta.

Assim, em dois tempos, o Flickr se cobriu de fotos e cartazes de protesto, e grupos contra a censura brotaram e cresceram como cogumelos em dia de chuva, numa típica demonstração do poder de mobilização da rede.

Para os egressos do Fotolog, o movimento traz más lembranças. A comunidade, que foi uma das mais extraordinárias experiências do mundo online, começou a se desintegrar quando a administração se afastou dos usuários, que tentaram se fazer ouvir através de protestos como o que hoje varre o Flickr. Os administradores do Flickr acompanharam a decadência do Fotolog e aprenderam com ela. Reconhecem seus erros rapidamente e têm um diálogo mais franco com os flickeiros; no entanto, pisaram na bola ao não discutir antecipadamente o atual problema e ao demorarem demais a se explicar.

Aparentemente, a legislação alemã é mais severa do que a dos demais países europeus em relação ao que crianças podem ou não ver. Como ninguém garante que o Flickr não está sendo visto por menores, a administração optou pela saída mais fácil, pondo todos os alemães no mesmo saco, interferindo com seu direito de navegar por onde bem entendem e despertando a ira de usuários mundo afora. Vamos ver agora como desata esse nó...

A volta por cima de Hillary

Vídeo de senadora com os Clinton imitando ‘Os Sopranos’ ganha espaço na mídia

Internacional - Marília Martins
Jornal O Globo - 21/06/2007

A agilidade da campanha de Hillary Clinton impressiona até os seus adversários. Ela resolveu dar o resultado da eleição do tema musical de sua campanha lançando na internet um vídeo em que imita o final de “Os Sopranos”, a série televisiva de maior audiência nos EUA nos últimos oito anos. O vídeo apresenta os Clinton fazendo uma divertida paródia da família Soprano. Bill e Hillary aparecem numa lanchonete conversando sobre o resultado da votação popular via website, um dos personagens de “Os Sopranos” passa pela mesa (Johnny Sack, interpretado por Vince Curatola), enquanto, ao fundo, toca “Don’t stop believing”, o tema da série. Toda a cena imita o capítulo final da minissérie, intensamente debatido por deixar várias das tramas em aberto, sem conclusão. A vencedora do concurso, “You and I’, de Celine Dion, não é anunciada pelo vídeo e só é revelada ao internauta que passeia pelo website oficial de Hillary, depois que ele é convidado a fazer uma contribuição à campanha.

Depois que Hillary foi vítima de um vídeo pirata no YouTube, ironizando sua postura de que tudo vê e controla, apresentando-a como Big Sister, uma versão feminina do ditador cibernético Big Brother, do livro “1984”, de George Orwell, a senadora agora virou o jogo e ganhou espaço na mídia com sua versão muito particular do suspense final que mais atraiu os americanos. E decidiu fazer isto no momento em que as pesquisas de intenção de voto revelam que ela ampliou sua vantagem sobre seu principal oponente entre os democratas, o senador Barack Obama. A última pesquisa do Instituto Gallup mostrou que Hillary tem 10 pontos percentuais de vantagens entre eleitores com nível superior e 23 pontos entre eleitores com até o ensino médio. E mesmo entre os eleitores afro-americanos, o apoio a Hillary é maior do que a Obama. Se contar votos a agilidade em aproveitar temas badalados na mídia para ganhar espaço no noticiário, Hillary está mesmo muito na frente nesta corrida multimilionária pela Presidência.

Veja o vídeo:

Prepare-se para a Wikinomia

Negócios no Second Life? Eles são só uma parte da próxima onda: economia baseada em colaboração em massa e trabalho entre pares.

Tecnologia - André Machado
Jornal O Globo - 25/06/2007

O avatar do publicitário Márcio Ehrlich, no Second Life (SL), assistiu a um casamento no mundo virtual há algumas semanas. Entretanto, como o casal era brasileiro e a cerimônia, oficiada em inglês, ele teve que ajudar na tradução dos ritos. Acabou oficiando extra-oficialmente o casório, e percebeu que havia um mercado para a coisa. Abriu uma capela para casamentos, a Moo’nlighting Chapel (grafada assim mesmo, devido ao nome do avatar de Ehrlich, Márcio Moo), onde já tem cerimônias agendadas, incluindo tudo: DJ virtual, fotógrafo e orientação para comprar roupas e outras coisas para o casamento.

— A capela fica em Fairchang Vista NW, e já bolei uma promoção oferecendo três casamentos de graça — conta Márcio, que cobra R$35, ou 3.500 Linden Dollars, a moeda do SL, por uma cerimônia (a metade do preço usual por lá). — Já se inscreveram na promoção 36 avatares femininos.

Ehrlich é apenas um exemplo de empreendedorismo no meio de uma nova era econômica que chega com impacto: a "wikinomia", ou wikinomics, para ficar no termo original cunhado pelo consultor canadense Don Tapscott, co-autor do livro "Wikinomics: como a colaboração em massa pode mudar seu negócio" (Nova Fronteira). O livro, best-seller internacional, chega esta semana às livrarias, e na próxima quarta-feira Don fará em São Paulo, na IT Conference, sua primeira conferência fora dos Estados Unidos e Canadá sobre o assunto. Falando ao "Info Etc" por telefone de San Diego, ele contou que escolheu fazer seu keynote aqui porque adora o país — já esteve no Rio, em Salvador e em Comandatuba com a família.

Quem não largar o osso vai ficar para trás na nova ordem

Mas o que é a wikinomia? Trata-se de uma nova forma de fazer negócios e trabalhar em conjunto, colaborativamente. Como na Wikipedia, por exemplo. Ou como na comunidade de programadores do software livre. Segundo Tapscott, estão condenadas à morte as empresas que, hoje, se apegarem demais à propriedade intelectual e não souberem trabalhar com parceiros (peers), não apenas fornecedores.

— Estamos caminhando para a maior mudança já vista na natureza corporativa, para uma mudança no modo como as empresas orquestram sua capacidade de inovar e criar serviços — diz ele.

No século XX, prossegue Don, isso era feito em empresas verticalmente integradas, em que todas as atividades estavam dentro das fronteiras da empresa. Com a chegada da internet, criou-se a "business web", em que as companhias se espraiavam e se concentravam no que faziam melhor, enquanto uma rede de parceiros cuidava do resto.

— Agora, com a colaboração em massa e a wikinomics, estamos seguindo para o próximo estágio. E nesse estágio as pessoas, os pares (peers) podem se reunir via web e criar valor fora das fronteiras da empresa, de modo que ela precisa se comportar de modo diferente.

Por "de modo diferente" entenda-se a adoção de quatro procedimentos fundamentais. Primeiro, deixar para trás o conhecimento fechado e adotar o aberto.

— As empresas sempre quiseram proteger a propriedade intelectual, com restrições, copyright e assim por diante. Mas isso não terminou bem, por exemplo, para a indústria da música. Nem para a Microsoft, que acabou brigando com o Linux e sofrendo por causa disso — afirma.

É preciso ao menos compartilhar uma parte do negócio

Para Don, as empresas inteligentes hoje percebem que se deve ter uma parte de sua propriedade intelectual reservada, resguardada, e outra que se compartilha com parceiros e clientes, ou simplesmente se abre para todos, de modo que seja de todo mundo e esteja disponível para todo mundo.

— Foi o que a IBM fez ao suportar o Linux, passando a ganhar US$1 bilhão de dólares por ano e montando uma plataforma sobre a qual criaram um negócio multibilionário — afirma. — Foi o que fizeram as empresas de biotecnologias envolvidas no mapeamento do genoma humano. As empresas precisam encarar a propriedade intelectual de forma diferente nesse novo ecossistema.



A era do interminável aprendizado

No mundo da colaboração, não dá para relaxar e gozar: o que se aprende hoje pode não valer amanhã


O estúdio da agência Reuters no World Economic Forum dentro do Second Life: produtos criados por "prosumidores"

Outro exemplo citado no livro de Tapscott é uma empresa de mineração que abriu informações na web sobre uma jazida de ouro e pediu ajuda para melhor explorá-la. Acabou montando uma rede peer-to-peer multidisciplinar (e, claro, pagou aos colaboradores) e lucrou muito no novo processo.

Uma "pele elétrica" que recobre o planeta

O segundo procedimento "wikinômico" apontado por Don é justamente trabalhar em pares, num esquema peer-to-peer. O terceiro, ser capaz de compartilhar. E o quarto, agir de forma global, como acontece na própria internet, definida no livro como uma "pele elétrica" que recobre a Terra.

— A própria internet é um grande produto da colaboração em massa — lembra Tapscott. — Foi criada através da auto-organização. Não é propriedade de ninguém. E essa colaboração muda a própria internet.

— Veja as ferramentas de busca, das quais o Google é a dominante. Agora surgiu um desafio a ela que partiu de Jimmy Wales, criador da Wikipedia. Ele tentou bolar uma search engine baseada em wikis (softwares ou URLs que podem ser editados pelos usuários) em que as pessoas podem usar suas próprias informações para identificar e procurar links e sites relevantes.

Ser profissional nessa era de colaboração significa estar sempre pronto a aprender e se reinventar. Ou seja, aquela conversa de que com a tecnologia iríamos todos relaxar e gozar é só conversa fiada mesmo.

— Antigamente, nos formávamos na faculdade e estávamos mais ou menos preparados para a vida. Hoje você se forma e é só o começo. Você não está preparado para a vida, está preparado para 15 minutos — sentencia Don. — Metade do que se aprendeu no primeiro ano já está obsoleto quando chegamos ao quarto ano.

A internet, na verdade, é só parte disso — estamos vivendo numa economia do conhecimento, e por isso há que reinventar nossa base de saber múltiplas vezes enquanto seguimos pela vida.

— Isso é uma grande responsabilidade, mas também uma grande oportunidade. E a web é a ferramenta perfeita para aproveitá-la.

O Second Life faz parte desse processo de colaboração em massa. O avatar de Tapscott já deu uma conferência lá. Mas para ele o aspecto mais interessante do Second Life não é sua virtualidade, mas o fato de que é, na verdade, uma empresa — a Linden Labs — cujos produtos, ou 99% deles, são criados por seus clientes.

— Em outra palavras, estamos criando produtores em vez de consumidores: os "prosumidores" — diz Don, que usa colaboração em sua vida profissional. O capítulo final de "Wikinomics" é um wiki, escrito por gente do mundo todo.

Quando a gente escuta essas teorias econômicas, logo se pergunta: mas não será uma nova bolha? Don nega.

— A wikinomics não é uma nova bolha. As empresas percebem que é preciso mudar: bancos, companhias de mineração, de eletroeletrônicos, todos compreendem os princípios. — diz.