quarta-feira, 4 de julho de 2007

A etnia brasileira em retratos falados no CCBB

Polícia Civil receberá as fotos de cinco mil modelos de bocas, narizes, cabelos e olhos feitas durante instalação

Eventos - Laura Antunes
Jornal O Globo - 24/06/2007

Sucesso de público, a instalação interativa "Auto-retrato falado", montada no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), na qual o visitante é convidado a fazer o próprio retrato falado, ultrapassou a esfera artística. O projeto, que usa um programa de computador — o primeiro para uso policial feito no Brasil — desenvolvido pelo economista Isnard Martins, reuniu durante a exposição um banco de dados com pelo menos cinco mil modelos de bocas, narizes, sobrancelhas, olhos, cabelos e formatos de cabeça, que será agora doado à Polícia Civil do Rio.

Projeto poderá ser levado a outros estados

Esses modelos femininos e masculinos, coletados de jovens, adultos, idosos e crianças, se transformou num rico acervo da etnia brasileira, segundo o designer Jair de Souza, autor da instalação artística. A idéia de Jair é percorrer futuramente outros estados para fotografar mais modelos de narizes, sobrancelhas, olhos...

— O banco de imagem da instalação reúne fotografias de pelo menos mil exemplares da etnia brasileira. Foram dois meses fotografando e separando em arquivos os modelos de bocas, sobrancelhas e outros itens — explica Jair.

Responsável pela confecção dos retratos falados na Polícia Civil do Rio, a Coordenadoria de Recursos Especiais (Core), além de uma equipe de policiais-desenhistas, usa um programa de computador canadense. Mas, de acordo com um policial que trabalha no setor de retrato falado da Core, o uso do software canadense tem limitações.

— O desenho feito no papel pelo policial é fundamental no resultado final porque muitas vezes os modelos arquivados no programa canadense não se encaixam à descrição feita pela vítima. Então, o desenho final costuma ser feito em papel, com o policial fazendo os ajustes necessários ao retrato falado — explica ele.

Visitantes têm 20 minutos para fazer auto-retrato

Dizem que a beleza está nos olhos de quem vê. E deve ser verdade, a julgar pelos resultados da instalação do CCBB, que termina no dia 8. Durante 20 minutos numa cabine sem espelho, o visitante faz o auto-retrato falado, diante de um acervo computadorizado com centenas de modelos de bocas, narizes, sobrancelhas, olhos e cabelos — além de marcas de expressão, barbas, cavanhaques, cicatrizes e acessórios, como, óculos e até turbantes. Alunos de artes plásticas ajudam o visitante a montar o auto-retrato. Esgotado o tempo, ele é comparado com uma fotografia do visitante (feita logo na entrada).

Diariamente, conta Jair, são montados cerca de cem retratos falados. Segundo ele, as crianças são as que mais se aproximam da aparência real. Homens e mulheres tendem a melhorar o visual e torná-lo mais rejuvenescido.

— Todo o auto-retrato é um processo de reflexão e conhecimento de si mesmo. São 20 minutos que a pessoa tem na cabine para pensar em como ela é — acrescenta o autor da instalação.

Dificuldade maior é escolher o próprio nariz

Coordenador do curso de investigação e perícia da Universidade Estácio de Sá, o professor e economista Isnard Martins disse que as pessoas têm mais facilidade de apontar o cabelo correto do que outros itens do rosto:
— As pessoas têm maior dificuldade em apontar corretamente o próprio nariz. A boca vem logo depois, em grau de dificuldade. O formato da cabeça e dos olhos são os mais fáceis, depois dos cabelos.

Na última quinta-feira, a instalação do CCBB recebeu a visita de Terezinha Moreira Sampaio, escrivã de polícia aposentada, que se tornou uma das policiais mais requisitadas para fazer retratos falados nas décadas de 80 e 90 (embora até hoje seja convidada por delegados para ajudar nas entrevistas de vítimas). Terezinha — que prefere a técnica de desenhar o retrato falado usando apenas um catálogo (também em papel) de modelos de bocas, narizes etc — reconheceu que o programa de computador pode acelerar a confecção do desenho.

— Ainda acho que a minha técnica de fazer retrato falado se aproxima mais do rosto original. Isso porque, depois que a pessoa escolhe o formato de boca, olhos e outros itens, eu faço o desenho final em papel — explica Teresinha, responsável por um dos retratos falados mais precisos de Vilma Martins, a seqüestradora do menino Pedrinho, em 1986.

E só até o próximo domingo, dia 08 de Julho. Leia mais a respeito sobre o projeto

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