quinta-feira, 9 de agosto de 2007

Começa a era dos clipes feitos pelo celular

Cultura - Ivy Farias
Jornal da Tarde - 12/07/2007

Ele começou a carreira como um 'mala', daqueles que não escolhem lugar para fazer escândalo. Gritava em cinema, teatro, hospital, velório. Quando foi promovido a máquina fotográfica, elevou todo ser humano à condição de paparazzo em potencial, e todo famoso à de vítima. O celular, agora, vive um momento mais sublime. É o sonho que faltava às bandas de garotos que até tinham dinheiro para gravar seus CDs, mas jamais conseguiriam produzir seus próprios clipes.

A lógica dos 'celularmen' não requer prática nem tão pouco habilidade. O aparelho pesa infinitamente menos do que uma câmera profissional, faz filmagens em qualquer ângulo e vai no bolso. A qualidade de imagem dos mais baratos, óbvio, não fica lá essas coisas, mas aí que mora outro segredo. Roqueiro que se preze consegue fazer qualquer precariedade jogar a seu favor.

A primeira banda brasileira a entrar na era dos telemóveis é o Detonautas Roque Clube, que acaba de filmar o clipe da canção O Retorno de Saturno com os celulares Nokia 93 e 95, aparelhos nada modestos que permitem uma resolução de um mega, este sim melhor que muita câmera convencional. "O celular é mais fácil porque tem um formato intimista que não precisa de muita verba, equipe ou equipamentos", acredita o diretor do clipe e autor da idéia, Giuliano Chiarardia. "Já tinha feito um curta metragem com celular e queria explorar esta nova tecnologia também em videoclipes. Chamei o Tico (vocalista do grupo) e ele topou", afirma Giuliano, que divide a direção com Rodolfo Nakakubo.

O convite fazia sentido para a primeira banda formada pela internet, em 1997, num chat em que o vocalista Tico Santa Cruz e o baixista Tchello decidiram se unir. "O futuro da música está no celular", conta Tico, que pretende lançar O Retorno de Saturno no site oficial da banda, no YouTube e também veicular no celular dos fãs. "Estamos estudando todas as possibilidades, mas nossa idéia é usar as novas mídias", diz o vocalista dos Detonautas.

Quem faz coro com a banda no Brasil é o ministro da Cultura, Gilberto Gil. Depois de quatro anos sem criar uma nova música, Gil fez Banda Larga Cordel especialmente para a turnê pela África e Europa. Quando apresentou a nova música para os amigos na cozinha de casa, Gil tinha entre os convidados o diretor de cinema Andrucha Waddington, que aproveitou a deixa e usou seu celular para fazer o clipe da canção. E como o título da música sugere, o ministro divulgou o clipe apenas na internet.

A novidade do Brasil também é explorada com cautela lá fora: apenas duas bandas usaram o recurso do celular para fazer seus clipes. Uma delas, a americana President of United States of America, fez o vídeo Some Postman, do álbum Love Everybody com o telefone portátil. E os próprios músicos do grupo XFYA fizeram seu videoclipe Haber Get Down em sua cidade natal, San Diego. "Agora cada banda pode fazer sua música e clipe com um celular com câmera e espalhar o produto globalmente", relatou Chris Hoar, fundador do site Textamerica.com numa entrevista para um jornal local. Hoar afirmou que este vídeo era um incentivo "para pessoas talentosas e criativas olharem de um outro jeito para celulares."

Apesar de fazer parte da vida das pessoas há mais de uma década, só agora o celular é considerado uma nova mídia por produtores e anunciantes. "O celular já é um meio de comunicação que está sendo muito bem aproveitado pelas gravadoras", diz Gian Uccelo, gerente de novas mídias da Warner Music. Uma das estratégias da Warner é a abertura de uma loja de conteúdo próprio para celulares, ainda este mês. A idéia é vender wallpapers, ringtones e, claro, clipes. "Já temos clipes de até 30 segundos. Só não transmitimos mais por limitação de rede", complementa Uccelo.

Até a MTV quer se integrar com esta nova mídia, seja como uma plataforma de transmissão ou produção. "Já temos conteúdo para celular e temos vontade de fazer uma novelinha para os aparelhos", conta o diretor de programação Zico Góes. "Ainda está difícil caminhar,por hora não traz dinheiro. Mas é um negócio do futuro", diz Zico.

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