quinta-feira, 9 de agosto de 2007

Herói polêmico, filme controvertido

Internacional - Graça Magalhães-Ruether
Jornal O Globo - 22/07/2007


Mais de seis décadas após o fim da Segunda Guerra, a Alemanha descobre seus poucos heróis da resistência contra Hitler. O principal deles é o conde Claus Schenk von Stauffenberg, militar que liderou o atentado fracassado contra o ditador no dia 20 de julho de 1944. O alemão — que apoiou os nazistas no início, mas mudou de idéia ao ver que a Alemanha estava afundando num abismo — foi descoberto também por Hollywood. Na última quinta-feira, começou a ser rodado em Berlim e Potsdam um filme sobre Stauffenberg: "Valkyrie", com Tom Cruise no papel principal.

A escolha de Cruise, que é uma espécie de embaixador da igreja da cientologia, causou muitos protestos na Alemanha. Berthold Schenk von Stauffenberg, filho mais velho do conde, que é general da reserva e tem 72 anos, tentou impedir o filme.

— Nós alemães não sabemos lidar com a nossa história — disse.

Thomas Krause, tenente-coronel da reserva e curador da exposição "Cem anos Stauffenberg", advertiu para o perigo de Cruise transformar o filme numa "ação de relações públicas" para a cientologia.

Um neto de Stauffenberg, Philipp von Sculthess, que é ator, interpreta o ajudante de Henning von Tresckow (Kenneth Branagh), um participante da conspiração dos militares contra Hitler, interpretado, por sua vez, pelo ator britânico David Bamber.

Na sexta-feira, o ex-chanceler alemão Helmut Kohl presidiu o juramento de 450 jovens militares, num ritual que vem sendo realizado desde 1999. A cerimônia teve lugar no centro de Berlim, no local que abrigava o comando do Exército, onde Stauffenberg foi executado, com três outros conspiradores, no mesmo dia do atentado fracassado contra Hitler. A escolha do local mostra como a imagem de Stauffenberg é hoje um símbolo nacional.

No pós-guerra, porém, ele passou a ser visto como figura complexa e controvertida, como aponta o historiador Ekkerhard Klausa, da Universidade de Berlim. Segundo Klausa, ainda em 1939, início da Segunda Guerra, Stauffenberg escreveu da Polônia sobre a "plebe de judeus e mestiços", um povo que "só se sente bem debaixo do chicote".

Mas ao voltar da África, onde perdeu um olho e alguns dedos da mão, o coronel aderiu ao grupo de conspiração que planejava matar Hitler e também uma rebelião contra as SS (tropas nazistas de elite) e a Gestapo. No dia do atentado, Stauffenberg depositou num bunker em que Hitler se reuniria com assessores na antiga Prússia Oriental (atual Polônia) uma maleta com uma bomba-relógio. A bomba explodiu apenas em parte, matando cinco das 24 pessoas presentes. Hitler ficou levemente ferido.

No mesmo dia, quatro dos líderes da conspiração foram executados em Berlim. Stauffenberg tinha 36 anos. Segundo o historiador Michael Stuermer, Stauffenberg e seus aliados queriam "salvar a Alemanha".

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