domingo, 24 de junho de 2007

Palestra na ABL

A Academia Brasileira de Letras encerra sua quarta edição do Ciclo de Conferências 2007 com um olhar nos Espaços da Mídia. Sob a coordenação do acadêmico Murilo Mello Filho, a última palestra tratará do "Humor, charge e caricatura contam a história do Brasil" com Isabel Lustosa.

O evento ocorre nessa próxima terça-feira, dia 26/06, terá entrada franca e transmissão ao vivo pelo portal da ABL.

ONG britânica acusa Google de desrespeito à privacidade

Buscador acumula dados pormenorizados das procuras feitas pelos usuários

Tecnologia - O Estadão - 11/06/2007

O líder entre os serviços de busca da internet, Google, foi fortemente criticado neste final de semana pela Privacy International, uma organização britânica de defesa dos direitos à privacidade.

A organização divulgou um relatório intitulado "A Corrida para o Fundo: O Ranking de Privacidade das Empresas de Busca na Internet", onde destaca o Google entre 20 sites analisados, como "constantemente hostil com relação à privacidade."

Segundo o relatório, a cada busca que um usuário realiza pelo Google, a empresa acumula informações sobre seus gostos, interesses e crenças, que podem ser usadas por terceiros, como anunciantes por exemplo. O Google, no entanto, afirma que jamais repassa a terceiros esse tipo de informação pessoal.

Embora o relatório detalhe um punhado de preocupações específicas, a principal ameaça destacada pela Privacy International é o tamanho crescente do Google e seu alcance como maior fornecedor de serviços de busca, bem como o volume de dados que a empresa coleta para oferecer serviços de internet cada vez mais personalizados.

"Isso se deve em parte à diversidade e especificidade da linha de produtos do Google e à capacidade da empresa para distribuir entre essas ferramentas os dados obtidos, e em parte ao domínio do Google sobre o mercado e às imensas dimensões de sua base de usuários", conclui o relatório.

O ranking foi formulado depois de um estudo de seis meses sobre as práticas referentes à privacidade em importantes empresas de busca na internet, serviços de e-mail e sites de comércio eletrônico e redes sociais. A Privacy International prometeu divulgar relatório mais completo em setembro, depois de novas consultas com as empresas envolvidas.

O Google discorda das conclusões do relatório. "Estamos decepcionados com o relatório da Privacy International, que se baseia em inúmeras imprecisões e em uma compreensão imperfeita de nossos serviços", disse Nicole Wong, diretora jurídica associada da empresa.

"O Google reafirma seu compromisso para com a proteção da privacidade de seus usuários e a oferta de produtos que oferecem transparência com relação às informações que coligem", ela acrescentou.

Planfeto orienta uso de drogas

Cartilha feita por entidade que organiza Parada Gay traz orientação sobre o uso de maconha e cocaína

País - Flávio Freire
Folha de São Paulo - 09/06/2007

A Associação da Parada do Orgulho GLBT de São Paulo, que organiza o ato a ser realizado amanhã, começou a distribuir ontem de manhã panfletos com orientações sobre o uso de cocaína e maconha. Devido à polêmica causada pelo texto, a distribuição foi suspensa no fim da tarde.

Com ilustrações, a cartilha traz informações sobre a melhor maneira de usar cada tipo de droga. Num dos trechos, sobre a cocaína, diz: "Para cheirar, prefira um canudo individual a notas de dinheiro". Sobre a maconha, a orientação era: "Faça uma piteira de papel só para você quando for rolar um baseado".

A entidade não informou quantos dos 40 mil panfletos confeccionados foram distribuídos. "A associação não apóia o uso de substâncias entorpecentes, quer nos eventos por ela organizados, quer na vida cotidiana de gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais", afirmou em nota a associação.

Sob o título "Tenho orgulho e me cuido", o panfleto recomenda ainda que não se faça uso de diferentes drogas ao mesmo tempo. E diz que o que se pode compartilhar é a droga, "nunca o material de uso".

Parceria com os serviços de saúde dos governos

O panfleto traz a chancela dos governos municipal, estadual e federal, por meio de seus serviços de saúde. A Embratur e o Ministério do Turismo também foram parceiros. O material trata ainda de questões envolvendo soropositivos: "Quanto mais cedo você souber se tem o HIV, mais tarde começará a tomar sua medicação", diz a publicação.

Antes de saber da suspensão, o diretor-adjunto do Programa Nacional DST e Aids, Eduardo Barbosa, chegou a discordar desse raciocínio.

— Decidir quando o portador do HIV deve começar a tomar remédios depende de uma análise caso a caso — disse Barbosa.

No que se refere à política sobre as drogas, ele disse que o teor do panfleto está de acordo com a política de redução de danos do Ministério da Saúde, embora com a ressalva de que o material está mal redigido. Barbosa disse que a cartilha dá dicas sobre o que já vem sendo trabalhado pelo governo, que é diminuir a vulnerabilidade de quem é usuário de drogas:

— O trabalho é para diminuir a vulnerabilidade de quem é usuário. O material foi direcionado a um público específico.

O promotor José Reinaldo Guimarães Carneiro, do Ministério Público de São Paulo, também considerou que o teor adotado pela associação não poderia ser interpretado como apologia ao uso das drogas.

— Não é porque o uso de drogas é proibido que não se deve fazer esclarecimentos. A apologia ao crime é a desobediência à regra penal, e me parece que o caráter do material é meramente educativo — disse Carneiro.

Em nota oficial, a Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde disse que a estratégia de redução de danos é eficaz, do ponto de vista da saúde público. Mas concordou que havia necessidade de revisão do texto que, segundo a nota, usa alguns termos adaptados daqueles contidos nos manuais de redução de danos para usuários de drogas. O ministério afirma que esses termos "não podem ser considerados como incentivo ao uso de drogas."

Trilhas da nova web

Internet vai mudar nos próximos anos e tende a engolir telefone, televisão e a realidade 'eletro-doméstica' como a conhecemos. Nada será como antes.

Tecnologia - André Machado
Jornal O Globo - 11/06/2007


Afinal, para onde anda o ciberespaço? Recentemente, aconteceu no Rio o 9oEncontro de Profissionais da Internet, promovido pela Locaweb, um dos gigantes de serviços web no país, e o "Info Etc" conversou com um de seus fundadores, Gilberto Mautner, sobre os rumos desse mercado. Também estivemos na chegada da empresa canadense Mitel, ao Brasil, onde testemunhamos uma demonstração da convergência IP que alavanca o mercado corporativo e também pode determinar trilhas pertinentes na comunicação de rede. Segundo a consultoria IDC, até 2010 se estima que virão somente de Brasil, Rússia, Índia e China mais de 250 milhões de internautas.

Para Gilberto Mautner, que é Chief Information Officer da Locaweb, além de vice-presidente de tecnologia e novos negócios, o Brasil ainda engatinha e precisa correr atrás de uma inclusão digital de alto nível.

— Há um crescimento acelerado de usuários em geral, mas quantidade de pessoas que usam a internet como ferramenta de negócio ainda é muito tímida — diz ele. — Se você entrar no Registro.br, encontrará aproximadamente um milhão de domínios .com.br inscritos. Acho que isso é nada num país de 180 milhões de habitantes. É uma proporção de 1 para 180. Na pequena Bélgica, a proporção é 1 para 3.
Segundo ele, o mercado web cresceu 20% no último ano, mas está, de fato, em seus primórdios por aqui.

Veja-se a banda larga, com apenas seis milhões de usuários. Ao menos, em relação ao estouro da bolha, sete anos atrás, houve um amadurecimento do mercado mundial, com um crescimento realmente sustentado, embora mais lento.
— A própria Nasdaq, depois da loucura da bolha no fim dos anos 90, está agora quase atingindo o ponto de negócios daquela época — conta Mautner. — Se então esse nível foi considerado o ápice, agora que a internet virou ferramenta de negócios ele tende a continuar subindo.

Algumas tecnologias vão ajudar a internet nessa caminhada. Uma delas é a voz sobre IP. Hoje, diz Gilberto, pagar voz por minuto não faz mais sentido. No longo prazo, a telefonia deverá ser engolida pela internet.
— Taí o Skype que não me deixa mentir, tanto que lançamos um PABX virtual em nossos serviços de hospedagem — diz. — A VoIP passará a ser um veículo de aplicativos, não apenas uma alternativa à voz paga.

Um superescritório totalmente movido a voz sobre internet

Uma prova de que a VoIP é o caminho para aplicações e convergência está na chegada da Mitel no Brasil. Não que a tecnologia já não esteja no maior "hype" no mundo corporativo, mas a diferença da solução Mitel é que ela foca nas pequenas e médias empresas, e suas soluções brigam direto com as grandes operadoras porque economizam na infra-estrutura apostando num software único de stream de voz.

— Nossa filosofia é levar o computador para dentro do telefone — diz Gilles Rousso, vice-presidente da empresa para América Latina e Caribe.
Mas também se pode inverter essa idéia, diante da demonstração da rede convergente que a empresa fez em sua sede na Torre Rio Sul: eles querem botar todos os serviços IP via telefone dentro do PC.

O software Your Assistant, parte da solução, é uma potência: dentro do seu perfil — por enquanto, no trabalho — o usuário pode ver, na tela de seu computador, as chamadas telefônicas não atendidas nos momentos em que saiu, atender a telefonemas, fazer chat, fazer áudio e videoconferências, mandar emails, mensagens instantâneas e compartilhar documentos de escritório em formatos consagrados, como Word ou PowerPoint.

Tudo isso pode ser ligado a PDAs e telefones wireless via IP, bastando um ponto de acesso WiFi para completar a trajetória IP sem fio. Há uma outra solução que une desktop e telefone, chamada Navigator, que permite configurar teclas para abrir programas ou sites-chave (como um Google) com um toque. Por enquanto, é para o mercado SMB, mas, como diz Rousso, poderia ser instalada e configura em casa, pelo usuário doméstico, pois custa menos de US$ 500 (ao menos sem os impostos escorchantes do Brasil).

Por falar em Google, a gigante das buscas também está de olho nas funções office ligadas à rede, tanto que o seu Google Gear, recém-lançado, permitirá a usuários trabalhar offline em documentos de texto etc sem fechar o browser (usando uma extensão para esse fim acoplada ao próprio navegador).

Depois do avanço avassalador da voz, veremos a era do vídeo, que já começou com o YouTube.
— Assim como a internet está engolindo a telefonia, com a televisão acontecerá a mesma coisa — vaticina Mautner. — Hoje as pessoas falam de IPTV, mas dentro do novo modelo IP está sendo aplicado o modelo antigo de TV.

Isso não é, com certeza, a cara da internet. O modelo de vídeo deverá se adaptar ao da rede. Para Mautner, assim como hoje se paga uma taxa mensal para ter um serviço web de hospedagem de sites, da mesma forma se pagará, no futuro, para se ter uma TV pessoal na internet. (Vale lembrar que, em termos de vídeo na web, além do YouTube, o pessoal do Skype também marcou tentos com a criação do Joost, nova forma de assistir à TV sob demanda.)

Mas e a TV digital? — Esse é o suspiro final da televisão convencional. Vai durar alguns anos — justamente o tempo que a banda larga precisará para engoli-la — diz Gilberto. — Se mesmo hoje, nos grandes centros, com 8Mb de banda, já dá para receber sinal de TV com qualidade, é uma questão de tempo para isso se alastrar. Hoje, no modelo tradicional, a rede e o conteúdo estão juntos. Mas creio que isso vai mudar. O conteúdo será injetado nas redes que já existem.

Novas interfaces móveis e programas como um serviço

Há ainda a questão da mobilidade, da periferia da rede repleta de celulares, PDAs e outros gadgets. Tudo deverá convergir para IP, na verdade já está convergindo, mas a banda sem fio ainda é relativamente estreita em relação a coisas como ADSL, diz o CIO. E há que resolver o problema da interface. Este lado da questão foi tratado, inclusive, no recente encontro entre Bill Gates e Steve Jobs na Califórnia. Para Jobs, sempre um visionário da indústria, os chamados aparelhos pós-computador pessoal, como celulares, PDAs, smartphones e tocadores de MP3 (e seus híbridos) é que têm a grande chance de reinventar a interface com os usuários — até mesmo porque precisam disso.

Qualquer um que tenha cansado os dedos num tecladinho para mandar um SMS mais longo sabe do que estamos falando. A própria Palm não lançou um mininotebook Bluetooth para que seus usuários editem documentos com calma? Por fim, o propalado conceito de SAAS (software as a service, ou software como um serviço) tem de ser levado em consideração. É o mundo "live" — Google Docs & Spreadsheets, Windows Live — em oposição ao "stand-alone". E padrões abertos, linguagens interoperáveis permitindo a mistura ("mashup") de softwares serviços para um fim.
— Todos devem falar a língua comum da web, os web services.

sábado, 23 de junho de 2007

Telefone fixo e Internet

ICMS pode cair R$ 7 bi com telefone por internet. Ligações Fixas respondem por 8,7% da arrecadação do país. Tecnologia, porém, pode trazer concorrência ao setor.

Tecnologia - Luciana Rodrigues e Mirelle
Jornal O Globo - 11/06/2007

O avanço da telefonia pela internet, no sistema Voip, trouxe, enfim, mais concorrência para o mercado de ligações fixas, beneficiando o consumidor. Mas os governos estaduais poderão sofrer uma forte perda na arrecadação de ICMS. A telefonia fixa responde por 8,7% da receita com esse imposto no país, ressalta Paulo Guaragna, fiscal da Receita Estadual do Rio Grande do Sul e autor de um estudo sobre tributação na internet. Se metade das ligações feitas no país migrar para o Voip — cenário que os analistas vêem como provável em 2010 —, a perda seria de R$ 7,38 bilhões anuais. Num cenário extremo, em que todas as chamadas passassem a ser realizadas pela internet, a redução de ICMS chegaria a R$ 14,94 bilhões. — A perda de tributação já é um fato — diz Guaragna.

Operadoras de Voip não recolhem ICMS

Ele explica que, ao reduzir o custo das ligações em até 80%, o Voip diminui a arrecadação de impostos. Além disso, a tecnologia desloca a telefonia para o que ele chama de "zona nebulosa" da tributação. Há decisões do Superior Tribunal de Justiça (STJ) que retiram o acesso à internet do campo de incidência do ICMS. A disputa está no Supremo Tribunal Federal (STF), e, enquanto não há julgamento final, muitas operadoras de Voip alegam que o serviço é acesso à internet para não pagarem ICMS. Ainda há as empresas de Voip sediadas no exterior e que, por isso, não recolhem o tributo. Para o consumidor, porém, o Voip poderá tornar o mercado mais competitivo. Como em outros países que privatizaram o setor, no Brasil a telefonia fixa é dominada pelas empresas que levaram as concessões das antigas estatais. Novas operadoras (as "entrantes") têm dificuldades para crescer.

Mas, com o Voip, essa realidade mudou em alguns países, afirma Luís Cuza, da Associação Brasileira das Prestadoras de Serviços de Telecomunicações Competitivas (Telcomp). Na Alemanha, 45% do mercado já estão nas mãos das "entrantes". Na França, 40% e na Espanha, 34%. Aqui, diz Cuza, 90% do setor ficam com as três grandes operadoras — Telefônica, Oi (ex-Telemar) e Brasil Telecom (BrT). — Nesses países europeus, houve regulamentações e a oferta de novas plataformas. É uma concorrência leal que beneficia o consumidor — diz Cuza, que lamenta a demora na licitação de novos padrões para banda larga, como o Wi-MAX. Mais cético, Huber Bernal Filho, diretor da consultoria Teleco, acredita que é cedo para avaliar o impacto de Voip e WiMAX na concorrência, e lembra que a infra-estrutura de banda larga no Brasil é controlada pelas grandes telefônicas. Em outros países, diz, a telefonia por internet avançou quando as operadoras de Voip investiram em sua própria infra-estrutura.

Serviço foi opção para espelhos e espelhinhos

O Voip acabou sendo uma opção para algumas empresas espelhos, que têm licença para atuar na mesma área das grandes concessionárias. Quem saiu na frente foi a GVT, espelho da BrT. No início do ano passado, a empresa lançou o Vono, serviço de Voip que tem hoje 49 mil linhas e cresceu 308% frente a março de 2006. — A GVT tem o tamanho necessário para esse movimento de vanguarda. Nem é tão gigante como as concessionárias nem tão pequena como as empresas chamadas virtuais — afirma o vice-presidente de Finanças da GVT, Karlis Kruklis, informando que as chamadas via internet já respondem por 2,5% da receita, ou R$ 5,4 milhões.

A Transit é uma das empresas de pequeno porte que estão aproveitando o Voip. Com licença para operar em telefonia fixa e autorização para prestar Serviço de Comunicação Multimídia (SMC), a operadora, que começou como espelhinho — figura criada para competir com as concessionárias e autorizadas na telefonia fixa — encontrou no Voip uma alternativa rentável: — Oferecemos soluções para o mercado corporativo. Temos dobrado a carteira de clientes nos últimos anos — disse Flávio Werneck, gerente de produto da Transit, parceira da Skype no Brasil.

Ministro é fã e usuário fiel da tecnologia: 'O futuro é o Voip', diz Hélio Costa Mônica Tavares

Trinta amigos e familiares em Brasília, Belo Horizonte e diferentes cidades dos Estados Unidos na lista de contatos do computador. E mais um telefone Voip de Miami, para falar com um filho que mora na cidade, a um custo de menos de US$ 20 por mês. O ministro das Comunicações, Hélio Costa, é um usuário de carteirinha da telefonia pela internet. — No caso do Skype, você ainda pode comprar créditos para ligações externas. Eu tenho essa relação de amigos com quem falo de graça, só pago a minha conexão à internet. Mas, se eu quiser, faço o depósito, compro os créditos, de R$ 20 ou R$ 30, e faço ligações de telefone para qualquer telefone do mundo — afirmou.

Costa reconhece que a economia do consumidor com o Voip virá acompanhada de uma queda na arrecadação de tributos sobre o setor de telefonia no país. A tendência é haver uma convergência das tarifas cobradas no mercado brasileiro com os valores internacionais. E o mesmo ocorrerá com a incidência de impostos. Se no Brasil cobram-se 50% de tributos e em outros países, 7%, o usuário vai preferir telefonar por meio de uma empresa internacional. O ministro aposta no crescimento do serviço à medida que a banda larga e o uso de computadores se expandirem no país. No Brasil, apenas dez milhões de domicílios contam com computador e seis milhões usam banda larga. — A única solução para as empresas de telefonia fixa é a criatividade. Elas têm que criar novos produtos todos os dias. Têm que mostrar aos usuários que o telefone não é mais só telefone, que ele faz uma porção de outras coisas.

Se a empresa conseguir fazer isto, vai sobreviver. Vai ser preciso usar as linhas telefônicas para fazer um terminal de acesso em que operem telefone, Voip, internet, eventualmente televisão. Só com o telefone a empresa não tem muito futuro, não, porque o futuro é o Voip — disse Costa. Hoje, no Brasil, não há regulamentação específica para Voip. Um técnico do ministério explica que a tecnologia é uma mudança conceitual muito grande, e avalia que qualquer tentativa de regulamentação agora impediria o avanço do sistema ou criaria distorções. Para o técnico, o importante é garantir a qualidade e a continuidade do serviço. O consumidor, garante, está protegido



Não tem volta

Tecnologia - Nelson Vasconcelos
Jornal O Globo - 12/06/2007

Você leu ontem, aqui no GLOBO, que a popularização da telefonia via internet (ou Voip) pode provocar, para o governo, uma perda bilionária com a arrecadação de ICMS. Chato dizer isso, mas vamos nos preparando: como a adoção de Voip será inevitável, só nos resta aceitar que novos tributos virão por aí. O governo, qualquer que seja, é sempre criativo nesse setor.

O consumidor, sempre com a corda no pescoço, não titubeia: migra para qualquer serviço que lhe seja mais conveniente. E pagar impostos não pode ser um esporte popular num país como o nosso, onde eles quase nunca são usados em benefício do contribuinte.

Essa característica não é exclusiva do consumidor brasileiro. Somente a Avaya, uma das patrocinadoras oficiais da Copa do Mundo, fornece telefonia pela internet para 3,6 milhões de clientes em todo o planeta. E o mercado é crescente, com empresas que oferecem serviços semelhantes proliferando.

Já a tecnologia, como vimos mil vezes, não espera a boa vontade dos órgãos reguladores e sai fazendo seu próprio mercado, ainda que por vias ilegais. As operadoras sabem disso e estão correndo atrás do prejuízo.

Enfim, assim como quase tudo que represente gastos menores, a telefonia via internet é um apelo forte e uma solução positiva, especialmente para os consumidores domésticos. E é o tipo da tecnologia que não vai morrer. Aliás, como temos hoje, no país, cerca de seis milhões de acessos em banda larga, há de se estranhar quem, desse povo, ainda não usa Voip.

E o resultado, diga-se novamente, só poderá ser a migração dos consumidores. E alguém vai pagar por isso: eu, você, nós todos. É uma questão de tempo.

Skype vê concorrência crescer cada vez mais

O gerente de Desenvolvimento de Negócios da Skype para a América Latina, Carlos Pires, em entrevista por e-mail, atribui o sucesso do serviço no Brasil à venda de computadores e ao preço elevado das tarifas das operadoras fixas. Para o executivo, no entanto, ele nunca vai substituir a telefonia convencional.

Economia - Mirelle de França e Luciana Rodrigues
Jornal O Globo - 12/06/2007

Quando o Skype chegou ao Brasil?
CARLOS PIRES: Sendo a Skype uma empresa de comunicação via internet, desde a sua fundação, em 2003, qualquer pessoa em qualquer lugar do mundo está apta a baixar o software a partir do site Skype.com e usar os serviços que oferecemos.

Qual é a participação do Brasil na operação da Skype em todo o mundo?
PIRES: Em número de usuários, o Brasil está entre os cinco principais mercados da Skype no mundo.

Por que o serviço de Voip (sigla para transmissão de voz pela rede mundial de computadores) faz tanto sucesso no mundo e, especificamente, no Brasil?
PIRES: As tarifas da telefonia ainda são caras e as chamadas via Skype são gratuitas (de computador para computador) ou bem baratas. Ou seja, é algo que reúne eficiência, comodidade e uma excelente relação entre custo e benefício.

No futuro, o Voip poderá substituir completamente as chamadas tradicionais?
PIRES: Fixos e móveis continuarão a existir por muito tempo. Algumas das maiores empresas do mundo estão usando Skype, mas não abandonam os telefones tradicionais. É o mesmo que ocorreu com os celulares: a adoção de móveis não acabou com os fixos.

O fato de o Brasil ter registrado um aumento na venda de computadores pode ter contribuído para o sucesso do Skype?
PIRES: É um dos fatores, ao lado do crescimento dos usuários de banda larga, do barateamento desses serviços, da qualidade crescente do nosso software e das tarifas ainda altas da telefonia tradicional.

Como é a concorrência no Brasil?
PIRES: Nossa empresa é líder no Brasil e no mundo. Quanto à concorrência, ela existe e deve crescer cada vez mais. Isso é ótimo: quem mais se beneficia é o usuário final.

Quem usa mais Skype no Brasil? Empresas ou pessoas físicas?
PIRES: Não divulgamos números locais, mas globalmente estimamos que cerca de 30% dos nossos usuários usam o software Skype por motivos profissionais. No último trimestre de 2006, conquistamos cerca de 35 milhões de novos usuários no mundo, totalizando 171 milhões, o que representa um crescimento de 129% em comparação a 2005. O software está disponível em 28 idiomas e é utilizado em quase todos os países. Do total de ligações globais de longa distância, 4,4% acontecem via Skype.

Qual será a evolução desse mercado? Que novos produtos e serviços podem surgir?
PIRES: Hoje, estamos explorando apenas algumas possibilidades da internet, há muito para acontecer. Atualmente, a maioria das pessoas usa o Skype nos seus computadores. Nos próximos anos, mais e mais pessoas usarão o Skype em dispositivos móveis, como celulares e telefones Wi-fi.

Adeus, mundo mineral

Ciência – Ana Lucia Azevedo
Jornal O Globo - 15/06/2007

Nossa sociedade cada vez mais dependente da eletrônica e de novas tecnologias pode estar com os dias contados se não aprender logo como reciclar minérios. Uma edição recente da revista britânica "New Scientist" traz números alarmantes sobre as reservas do planeta. Minerais raros como o índio (usado em LCDs para TVs de tela plana) e o tântalo (necessário para produzir celulares) têm sido explorados a taxas sem precedentes. As reservas de índio podem estar exauridas em 13 anos, se a demanda continuar a crescer no ritmo atual.

Já as de tântalo pode durar ainda cerca de um século. Porém, se o mundo começar a consumir numa velocidade equivalente à metade da americana, as reservas desaparecerão em 20 anos, de acordo um levantamento feito pela revista, com base em estudos de universidades americanas e européias. O índio, nesse cenário, acaba em quatro anos.

A platina, essencial para catalisadores de veículos e células combustíveis, poderá estar esgotada em 15 anos se o uso dessas tecnologias for ampliado. O antimônio é outro em perigo. Importante para a produção de medicamentos, ele estará esgotado em 30 anos. É importante destacar que o Brasil é muito rico em minérios raros, que devem se tornar cada vez mais escassos, necessários e caros. Temos, por exemplo, 48% das reservas de tântalo da Terra. Hoje, isso não é muito falado, mas elas se tornarão cada vez mais estratégicas.

Portal Roda Vida

Cultura - Nélson Vasconcelos
Jornal O Globo - 19/06/2007

A TV Cultura e a Fapesp criaram o Portal Roda Viva/Fapesp. O novo site, ainda experimental, permitirá o acesso às transcrições de todas as entrevistas realizadas no "Roda Viva" nos últimos 21 anos, na íntegra. Inicialmente, estarão disponíveis para consulta e pesquisa 16 entrevistas. Preciosidade.

Os slogans que matam a jogada

Propaganda móvel invade gramados e desacata o futebol

Artigo - Arnaldo Bloch
Jornal O Globo - 09/06/2007

Sei que as federações faturam, os estádios faturam, os anunciantes faturam. Mas está difícil aturar a invasão de placas móveis de propaganda nos estádios, aqueles painéis eletrônicos que ficam piscando, fazendo correr luz e palavras, alternando-se freneticamente nas laterais dos gramados. São o cúmulo da interferência, piores que os "fantasmas" que apareciam nas tevês antigas, se bem que aqueles a gente resolvia com giro de botão e bombril na antena.

O fantasma, agora, é sem solução: nos estádios ou no conforto do lar, essas esteiras rolantes que arrastam o olhar são de deixar o espectador tonto, de fazê-lo tomar um Engov antes do pontapé, outro depois do apito. Não tem pra ninguém. Mata a jogada geral. É jogador correndo prum lado, logotipo de cartão de crédito correndo pro outro, uma cacofonia tremenda, a luminosidade cambiante ofuscando as cores da camisa, o campo, as sombras. E, quando a TV dá close, fica difícil saber se é pra acompanhar o lance ou ler anúncio de refri, de pinga, de carro, nem utilidade pública é.

Claro que o objetivo é esse mesmo, dividir a atenção entre o jogo e a publicidade gritante durante noventa minutos, captar a distração quando a partida estiver ruim, e é claro que algum dinheiro não faz mal ao futebol. Mas, peralá, a gente termina a peleja com vontade de vomitar, com ódio dos anunciantes, inclusive dos que, eventualmente, mereciam simpatia

Não há nada tão invasivo nas várias arenas da vida e da mídia do que essa jogada dos painéis. Por exemplo, publicidade em filmes e novelas é nos intervalos, há um mínimo de respeito, vê quem quer, quem não quer vai ao banheiro, desliga, muda de canal, depois volta.

Já em estádio não tem controle remoto e, mesmo quando o jogo passa na TV, não há modo de sair enquanto a bola rola, seu time em campo, tem que entubar a descarga eletrônica sem chiar. Essa deve ter sido a grande descoberta das últimas décadas, engolir assim, no maior mamão-com-açúcar, o público dos esportes, aos bilhões.

Pior é que se a gente deixar de lado os painéis e olhar pras torcidas a coisa também começa a ficar esquisita. A do meu time mesmo, num dos jogos contra o Vasco no Estadual, desenrolou um bandeirão daqueles que cobrem meia arquibancada, e, lá no centro do pano, disputando lugar com o escudo de coração, a marca do patrocinador. Danou-se: gás líquido aniquila estrela solitária. Putz, deu uma tristeza e ao mesmo tempo uma vergonha de estar no mesmo barco com aqueles torcedores que vendem pano de bandeira pra anunciante.

Tenho 41 anos, mas já posso dizer: no meu tempo não tinha isso, não. Era bandeirão de bambu, só estrelão, preto no branco. Alô, Bebeto, você que está fazendo um trabalho decente, não deixe a gente passar essa vergonha, não. Alô, Montenegro, pare de desqualificar as mulheres e dê um daqueles seus piripaques. Alô, CBF, vamos vender até as arquibas, espaço do povo, às marcas registradas?

Pode ser tiro n'água, mas dá vontade de mandar alguém se catar. Tudo bem, não é novidade que futebol é business (tem que ser, né?), todo mundo sabe que carnaval é business, que praia é business, que água é business, que fundo de prédio é business, que chão que a gente pisa é business, que meio ambiente é business, que ética é business, que política é business. Mas vamos com calma, senão daqui a pouco nosso amor vira business e até o ar que a gente respira vira business, e nesse dia nossas privadas piscarão, assentos luminosos, águas dançantes da bunda à alma, mas calma aí, alma não é bunda, ainda que bunda, tantas vezes, seja business.

Modernismo em preto-e-branco

Galerias em Ipanema revivem os fotoclubes através de obras de artistas dos anos 40 a 60

"Eu poeta": imagem surrealista de Fernando Lemos está na exposição em cartaz na Galeria Tempo

"Sociedade de consumo", de Délcio Capistrano: na Galeria Bergamin

Eventos - Gustavo Leitão
Jornal O Globo - 22/06/2007

A época áurea dos fotoclubes está de volta em dois espaços da cidade. Celeiro do modernismo na fotografia brasileira dos anos 40 aos 60, o movimento fotoclubista é tema de uma mostra reduzida na Galeria Tempo e uma seleção ampla na Galeria Bergamin, ambas em Ipanema.

''Três expoentes da fotografia moderna — Fernando Lemos, German Lorca e Thomaz Farkas", aberta terça-feira na Galeria Tempo, reúne obras dos mais conhecidos fotógrafos dessa leva, residentes no Brasil. Embora sejam de várias procedências — Lisboa (Lemos), São Paulo (Lorca) e Budapeste (Farkas) — os três tinham em comum o gosto por abstração e surrealismo.

— Há um grande interesse internacional por esse período da fotografia na America Latina, que é riquíssimo — diz Marcia Mello, sócia da galeria.

A Galeria Bergamin optou por um panorama de 24 fotógrafos em "Fragmentos: modernismo na fotografia brasileira", inaugurada na última terça-feira. A mostra partiu de uma pesquisa do Museu da Imagem e do Som de São Paulo. Na lista, estão Délcio Capistrano, José Yalenti e outros. Lorca e Farkas marcam presença nas duas exposições.

Em discussão: Judiário & Mídia

Judiciário e mídia, o 'casal infernal'

Artigo - Luís Felipe Salomão
Jornal O Globo - 07/06/2007

A relação entre Judiciário e imprensa é dialética, quase contraditória. Nesses tempos de integração total de fala, texto, vídeo, áudio e telecomunicações eletrônicas, confirma-se o advento da "era da comunicação", acelerando-se as relações sociais e jurídicas.

Como pano de fundo, a reengenharia das instituições e poderes republicanos no ambiente democrático, pós-ditadura, em meio à "sociedade espetáculo".

No debate em torno do assunto fala-se do tempo urgente, urgentíssimo, do jornalista para apurar a notícia e disparar a informação; e também da necessária maturação que o juiz deve ter para o julgamento de qualquer causa. O "tempo" de um é diferente em relação ao do outro, surgindo daí muita desinformação a respeito, gerando enorme área de atrito.

Também convém mencionar a linguagem empolada, quase atávica, de alguns operadores do direito, criando barreira que dificulta adequado conhecimento sobre os conteúdos das decisões e manifestações processuais em geral.

Fica também patente uma má-formação e qualificação, em regra, do profissional do jornalismo, um certo despreparo em relação às questões que envolvem a Justiça. Não há, nos cursos de graduação, obrigatoriedade quanto a noções gerais de direito. Constata-se ainda certa inaptidão de alguns magistrados para o relacionamento com a imprensa, porquanto não recebem treinamento adequado para tão relevante tarefa.

Debate-se o problema da alegada "censura prévia" e da reclamação freqüente de parte dos jornalistas, no sentido de que há intervenção do Judiciário na produção jornalística.

Alguns magistrados entendem que decisões judiciais proibindo divulgação ou circulação de informações se baseiam na Constituição, que prestigia os direitos à privacidade e de imagem em detrimento da notícia ou informação. Para muitos juízes, não há censura quando se preservam princípios assegurados no texto constitucional e ainda mais quando a decisão pode ser impugnada com recursos típicos do processo, situação muito diferente do censor do tempo da ditadura, que percorria as redações e, ao seu sabor e conveniência, ditava o que podia ou não ser publicado.

Os jornalistas, ao contrário, defendem que sempre prevalece o direito de informar, vale dizer, "dever de prestar informação", mesmo quando contraposto a outros direitos fundamentais.

Outra questão controvertida decorrente da liberdade de informar é a possibilidade de indenização por danos morais, em caso de abuso pelos meios de imprensa. Os jornalistas e as empresas sustentam que há uma "indústria da indenização". Os juízes afirmam que, sem matéria-prima, não se pode falar em "indústria". Melhor explicando, se há abuso ou ofensa à honra individual com a divulgação da notícia, nasce o dever de ressarcimento em razão da violação a um dos direitos da personalidade. O Judiciário, como é certo, só atua quando acionado.

Há reclamação quanto ao corporativismo dos magistrados no julgamento das demandas indenizatórias e, reciprocamente, lamentos em torno de matérias tendenciosas contra o Judiciário na imprensa.

Jornalistas e juízes examinam, atualmente, temas como a ética jornalística e judiciária e o funcionamento dos mecanismos internos de controle das atividades, assim também o aprimoramento das ações dos segmentos (sindicatos e associações) para orientação dos profissionais.

Essa relação de amor e ódio, que Robert Batinder denominou de "casal infernal", traz à tona nitidamente três papéis destinados aos mesmos personagens: a) juiz como garantidor do preceito constitucional da liberdade de expressão; b) magistrado como aquele que resguarda outro princípio constitucional, o da privacidade e os direitos da personalidade; c) união entre Justiça e mídia, em prol da cidadania e contra a impunidade.

Por isso, aparentemente contraditórias, as ações podem ser convergentes. O perigo é quando a mídia resolve ocupar o lugar de um tribunal social. O comportamento de uma pessoa, em público, é o mesmo da vida privada?

As imagens instantâneas e espetaculares de agentes públicos ou particulares presos, antes mesmo de qualquer culpa formada em juízo, podem se transformar em enredo de novela, com bandido e herói?

Existe, na mídia, o princípio do "devido processo legal" (due processo of law), garantindo o direito de defesa e o princípio da inocência até prova da culpa?

Creio que o momento é de reflexão quanto ao papel de cada profissional no contexto da realidade brasileira atual. Priorizar os julgamentos dos casos de corrupção é uma boa resposta, investir na formação adequada de juízes e jornalistas também. Mas é preciso ter cuidado com a preservação das instituições, evitando-se generalizações e, sobretudo, com o estado de direito.

O debate que se trava hoje só é possível em razão da democracia que vivemos. E o Judiciário tem a missão constitucional de preservá-la.



Outra vertente

O Grande Perigo

Artigo - Dimmi Amora
Jornal O Globo - 12/06/2007

É cada dia mais comum encontrar entre integrantes do mundo jurídico pessoas que não toleram o trabalho da imprensa. Lendo o artigo do desembargador Luiz Felipe Salomão, no GLOBO de 7 de junho, fica mais claro entender o motivo, devido à excelente exposição de contrastes entre o ofício dos membros do Judiciário e o dos jornalistas realizada no texto. Aos que colocam os antolhos do seu próprio universo, será obvio não entender e não aceitar as peculiaridades da outra profissão e, assim, criticar o trabalho alheio sempre que este não lhe for favorável.

Demonizar o trabalho do Judiciário e da imprensa serve a diversos interesses dentro de uma sociedade. Fiquemos na imprensa. A repetição dos pregadores sobre o demônio do exagero da mídia ajuda a consolidar dentro do sistema judicial um pré-conceito sobre este fato e, assim, facilitar a vida de quem defende as supostas vítimas da mídia. Mas isto não é o que preocupa de fato. O que realmente começa a se consolidar de forma trágica dentro da Justiça é a idéia de que esta se tornou o único regulador da sociedade e tem, não a palavra final em caso de disputa, mas toda a palavra sobre todos os fatos. Sendo a imprensa detentora de um dos discursos da sociedade seria ela, para estes pregadores, o grande perigo. O texto do desembargador Salomão, infelizmente, dá alimento a essa canhestra idéia.

É até difícil contestar um magistrado diletante que em sua carreira vem pautando pela ética, pela celeridade e pela sobriedade em suas decisões. Mas não é possível ficarem sem resposta frases como "O perigo é quando a mídia resolve ocupar o lugar de tribunal social", ou "Existe, na mídia, o princípio do 'devido processo legal' garantindo o direito de defesa e o princípio da inocência até prova de culpa?", ou "E o Judiciário tem a missão constitucional de preservá-la (a democracia)".

Apesar de não dito no texto, o contexto destas críticas à mídia no artigo é o tratamento dado às operações da Polícia Federal desencadeadas a partir de 2003. Veladamente, ele é criticado pelo magistrado por ser espetacularizado. O fato é que as operações são feitas para serem espetáculos. E um dos responsáveis por isso é o Poder Judiciário. Em primeiro lugar, porque ainda não aconteceu, oxalá não acontecerá, de policial federal levar alguém para o xilindró sem a autorização de um juiz, desembargador ou ministro de Suprema Corte. Portanto, o espetáculo das prisões temporárias – algumas desnecessárias, algumas injustas – tem sempre a chancela da Justiça. E, em segundo lugar, os policiais se cansaram de ver seus trabalhos sendo jogados para obscuros escaninhos das varas criminais sem apresentarem resultados, ou seja, a punição dos culpados. Agora, o resultado pode até ser o mesmo: ninguém punido. Mas a imagem pública dos policiais é a de que eles cumpriram seu dever. Quem fica com a batata quente da impunidade na mão é o Judiciário.

A decisão de cometer atos simbolicamente fortes como grampear ou prender pessoas antes do fim do processo não é da mídia. E tentar fazer com que a mídia convença um sujeito comum — leitor, ouvinte ou telespectador — de que policiais, promotores e juízes acharam que um sujeito merece ser preso por alguns dias, mas que, depois, ele pode não ser um criminoso é acreditar que jornalistas podem operar milagres. O máximo que podemos é usar a linguagem técnica (aceita pelo Judiciário, por prévio acordo) para evitar que a condenação social — já imposta pelos atos jurídicos de levá-lo preso, revistar a casa, apreender bens, vasculhar sigilos — seja ainda mais agravada por palavras e imagens. Falar, portanto, em mídia como "tribunal social" constitui um exagero, visto que os possíveis "julgamentos" dela nesses casos não acontecem sem informações da própria Justiça. Querer controlar os atos de resignificação dessas informações é dar açúcar ao demônio do autoritarismo.

Além disso, usar "tribunal social" com conotação claramente negativa não parece apropriado. O funcionamento da sociedade se dá, sim, em outros "tribunais". São famílias, vizinhos, empresas, escolas, grupos de amigos que criam suas regras, aceitas por todos, e fazem julgamentos quando alguém não cumpre esses preceitos e aplicam punições. E os grupos erram nessas punições? Muitas vezes. Mas se corrigem também, além de sempre haver a possibilidade de a Justiça reparar os erros nos casos em que a lei permite. E a Justiça, repara os erros que ela comete? É jargão jurídico dizer que alguém tem que ter o direito de errar por último...

A idéia de que veículos de comunicação terão um "devido processo legal" antes de publicar chega a ser primária. A mídia tem seu processo próprio, assim como uma padaria, um colégio, uma família têm os delas — todos submetidos às leis do país. Se o padeiro for usar o "devido processo..." para fazer pão, só vamos comer torrada, visto que ele é — por natureza própria — lento. O "devido..." será realizado onde a sociedade definiu que ele deve acontecer: na Justiça. E a mídia será tribuna para que todos saibam o andamento dele. E a grande mídia será apenas uma das tribunas, não a única, já que é cada vez mais comum que a divulgação se dê por comunicação pessoal.

O que está escrito acima é uma parte da democracia. Há outras como o bom funcionamento das instituições, a harmonia entre os poderes, a liberdade para que as pessoas possam tomar suas decisões sem o risco de serem perseguidas, a melhoria na qualidade de vida da população, entre outras. Preservar a democracia, portanto, não é tarefa apenas do Judiciário. É de todos. Ao Judiciário a democracia que está em construção no Brasil reservou importantíssimo papel (não o único): o de ter a palavra final para dirimir conflitos. As palavras anteriores devem ficar a cargo da sociedade.

Alegre e cambaleante, Sarkozy é estrela do YouTube

Apresentador insinua que foi a bebida

Internacional - Jornal O Globo - 14/06/2007

As pernas cambaleavam e a expressão, nitidamente mais leve, era a de quem se segurava para não soltar uma gargalhada. Foi dessa forma que o presidente da França, Nicolas Sarkozy, se apresentou, atrasado, para dar uma entrevista coletiva, semana passada, durante o encontro do G-8, grupo dos sete países mais industrializados do mundo mais a Rússia. O jeito extrovertido do presidente surpreendeu os jornalistas e fez o apresentador belga Eric Boever, do canal RTBF, dizer ao vivo que "aparentemente ele bebeu mais do que água".

O cometário enfureceu o Palácio do Eliseu e a indignação chegou à mídia francesa, que vetou a reprodução do vídeo nas TVs do país. Mas no site de vídeos YouTube as imagens de Sarkozy alegre tinham, somente ontem, mais de dois milhões de acessos. Não é de nosso costume fazer comentários sobre vídeos de mau gosto — disse um porta-voz de Sarkozy.

Fontes do governo francês afirmaram que Sarkozy queria se pronunciar, dizendo que não bebe e que é corredor, mas foi desaconselhado por seus assessores. O mal-estar foi tão grande que o apresentador belga pediu desculpas pelo comentário. — Obviamente não queria ofender os franceses, até porque também sou francês por parte de mãe. Não imaginava que o assunto fosse tomar proporções tão gigantescas — disse.

Veja o vídeo:

Autoridade tradicional em xeque na China

Modernidade e abertura econômica levam jovens a contestarem princípios milenares e geram choques com geração mais velha

Internacional - Gilberto Scofield Jr.
Jornal O Globo - 17/06/2007

O vídeo começa com uma típica sala de aula onde estudam cerca de 20 jovens chineses de classe média, a Beijing Haidian Art Vocational School. Logo se percebe que o professor Sun Xinmao, de 70 anos, não consegue conter a arruaça. A cena descamba quando um dos alunos, fazendo caras e bocas para a câmera, tira o boné do professor e ameaça bater nele. Todos riem. O professor não fala nada, desconcertado. A arruaça dura uns cinco minutos. Mas o vídeo foi parar na internet e o que era para ser uma brincadeira de jovens chineses inconseqüentes virou um incidente que exigiu a ação da polícia e mobiliza até hoje a China: enfurecidos com as cenas, centenas de moradores de Pequim decidiram cercar o prédio da escola para linchar os estudantes. Telefones que seriam dos alunos foram divulgados na rede, mas não eram os verdadeiros. O que significou o inferno para cerca de 20 pessoas que passaram a receber chamadas e mensagens com ameaças e xingamentos.

O episódio é emblemático de dois fenômenos cada dia mais freqüentes em Pequim. O primeiro, em maior escala, é o dos linchamentos virtuais, que ocorrem quando internautas indignados com situações expostas na internet decidem, eles mesmos, empreender uma caça às pessoas que consideram erradas, seja porque cometeram adultério, se envolveram em situações pornográficas, receberam propina ou subornaram autoridades.

Mudanças são fruto de mais acesso à informação

O segundo fenômeno é um pouco menos gritante, mas desafia um dos maiores princípios da sociedade chinesa, herança de séculos de filosofia confucionista: o respeito a autoridades, pais, mestres ou idosos. São cada vez mais comuns os casos de estudantes que desafiam a autoridade de professores considerados "pouco informados", "fracos", "confusos", ou "pouco globalizados", especialmente a geração chinesa que nasceu no fim da década de 80 e nos anos 90. Estes jovens já têm acesso a muito mais informação - via internet, TV e celular - que seus pais e mestres, geralmente nascidos durante a Revolução Cultural (1966-76). São também mais viajados e muitos falam inglês, um sonho ainda para a maioria dos professores.

No caso dos linchamentos virtuais, a polícia e a Justiça são deixadas de fora e substituídas pela ação anônima em massa. Quem detectou o fenômeno a agência estatal de notícias Xinhua há duas semanas. Uma pesquisa com a palavra-chave "ordem de prisão" no maior site de buscas da China, o Baidu.com, revelou que existem hoje no país 50 mil ordens de prisão virtuais emitidas por pessoas que buscam alguém que pediu dinheiro emprestado e não pagou, filhos que fugiram de casa, maridos traidores, funcionários do governo corruptos, entre outros.

O linchamento virtual - típico de um país onde a maioria dos tribunais ainda julga conforme a vontade do governo e onde faltam leis regulando vários aspectos do convívio em sociedade - divide o país. Uns acham que o fenômeno põe um freio em excessos sociais. Outros acham que é um mero ato de violência: "As ordens de prisão podem ser usadas como uma ferramenta para criticar males sociais e promover a supervisão pública da ordem social, além de contribuir para elevar o nível moral da sociedade", disse Liu Xin, professor de direito administrativo da Universidade de Ciências Políticas e Leis de Pequim.

Nova geração é mais exigente com educação

Xu Xiang, professor de sociologia da Universidade de Nanquim, critica as ordens de prisão, alertando para sua falta de base legal: "Na maioria dos casos, são um tipo de violência gerada pela internet ou uma espécie de tortura alimentada por grupos privados, nada relacionado com a melhora da moral na sociedade", diz ele.

No caso dos estudantes que desafiam os professores, o espanto não é menor. Yiang Yifei, estudante do terceiro ano do Ensino Médio em Pequim e considerada a melhor do colégio, foi parar na imprensa local quando decidiu desafiar seu professor de história, que acabou demitido:

- Ele ensinava o que está nos livros palavra por palavra - reclama. - Então decidimos reclamar porque o professor se recusava a responder perguntas históricas que não estavam nos livros ou que se relacionavam a um filme ou uma novela histórica vistos na TV. Talvez o professor achasse que as perguntas iam além dos textos, mas acho que, se um aluno tem uma pergunta para o professor, ele tem que respondê-la.

A história se repete em maior ou menor grau em várias escolas do país e incomoda pela própria natureza da educação chinesa, calcada no método do ouve-decora-escreve-na-prova-passa e na qual a maioria dos professores, pela própria tradição confucionista, não chega a ser questionada. Um editorial do jornal "China Daily" afirma que "a diferença de gerações entre professores e alunos vai da linguagem às atitudes. Por causa da economia de mercado, crianças que cresceram nos anos 90 acreditam que educação é algo que eles consomem e, portanto, têm o direito a ter outra se a que têm não é considerada boa".

Second Life abre campo para profissionais liberais e pequenas empresas

Oportunidade - Flávia Rodrigues
Jornal O Globo - 17/06/2007

O crescimento do Second Life, uma mistura de games com site de relacionamentos pessoal e comercial, está criando oportunidades para profissionais das áreas de computação e design. É que está faltando mão-de-obra especializada na linguagem gráfica usada para construir os ambientes e os personagens desse espaço virtual. Como a área é nova, tende a ganhar mais quem se especializa primeiro. A estimativa do Senac Rio é de que um programador iniciante, que tem salário em torno de R$2 mil, possa ganhar até R$7 mil depois de dominar as técnicas.

Nesse embalo, surgem cursos de programação voltados para o Second Life. O Centro de Informática do Senac Rio, por exemplo, vai oferecer capacitação a partir do mês que vem. Segundo o gerente da instituição, Frederico Novaes, micro e pequenos empresários que queiram aproveitar as oportunidades do mundo virtual também poderão contratar consultoria: — Essa área de trabalho está crescendo rapidamente. A internet é rápida. É preciso ser ágil também.

Entre as habilidades mais procuradas nesses profissionais, estão a capacidade de modelar figuras em 3D. Ou seja, construir formas complexas, como cilindros ou esferas. Os mais experientes conseguem produzir essas figuras fora do jogo e adicioná-las ao ambiente virtual.

Técnicas para deixar os avatares bonitos

A diretora da escola T&T, Cristina Araújo, explica que também é preciso aprender uma linguagem de informática chamada C++. Assim, fica prático incluir as criações próprias no ambiente do Second Life: — Essas técnicas melhoram a aparência dos personagens virtuais.

A movimentação desses personagens virtuais ou avatares — boneco indispensável para o usuário entrar no Second Life — é, aliás, uma das principais dificuldades de quem se aventura a entrar neste ambiente. A criação dos avatares também é considerada complicada. O engenheiro de computação Breno Gentil apresentou um projeto de mestrado sobre o tema ao Departamento de Artes e Design da PUC-Rio. Ele está estudando as principais barreiras que os usuários encontram para se locomover no ambiente virtual.

Gentil não descarta a idéia de prestar consultoria após a defesa da dissertação: — Empresas interessadas no Second Life formam um bom mercado para profissionais ligados a novas mídias.

Na Coppe/UFRJ, a discussão sobre o Second Life chegou à linha de pesquisa "Informática e sociedade", do mestrado e doutorado em engenharia de sistemas. Para a professora Cláudia Werner, questões éticas precisam passar pelo treinamento de quem vai trabalhar com Second Life: — Como na vida real, avatares e empresas podem ser um perigo. É preciso ter atenção à falta de regras na internet.

A novidade também pode ser interessante para os negócios de micro e pequenos empresários. Com mil reais, afirma Novaes, é possível construir um ambiente virtual onde a marca seja mostrada. Assim, o empreendedor acompanha a tendência adotada por grandes organizações como Santander, Bradesco, TAM, IBM, RJZ/Cyrela e Petrobras — que promoveu, até, oficinas virtuais de percussão com o grupo Olodum Mirim, do qual é patrocinadora.

O setor que mais cresce nesse mundo duplo, segundo o gerente do Senac Rio, é o de serviços. Particularmente, lojas de grife e salões de beleza: são elas que mais vendem produtos no Second Life. É que, como no mundo real, as pessoas querem que seus avatares pareçam bonitos. — É grande a procura por roupas e serviços que alterem o visual dos avatares.

Grife testou roupas no ambiente virtual

O empresário e estilista Rony Meisler, da grife Reserva, conta que está impressionado com o retorno obtido com os R$60 mil investidos no Second Life. Foi com esse dinheiro que a pequena empresa construiu a passarela virtual e encomendou a reprodução dos modelos que seriam apresentados no Fashion Rio, dias depois. Foi um teste. As imagens foram mostradas num telão, no desfile de verdade: — O Second Life interessa ao cliente da Reserva. Mas não esperávamos uma repercussão tão grande.

Tema em discussão: Publicidade

Editorial - Jornal O Globo - 18/06/2007

Debate se relaciona com os limites da intervenção estatal

Análise falha - Opinião O Globo

A publicidade de bebidas de baixo teor alcoólico, uma questão já resolvida no âmbito da auto-regulamentação, e em comum acordo com governo e Congresso, foi transformada pelo ministro da Saúde, José Gomes Temporão, numa polêmica em que se encontram aspectos cruciais sobre qual é o Brasil que a sociedade deseja construir. Se um país em que os cidadãos são capazes de mediar seus conflitos ou uma nação sempre dependente da intervenção do Estado - por definição, autocrática.

Quando José Gomes Temporão insiste que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), ligada a seu ministério, tem poderes para determinar o que deve e o que não deve ser feito na publicidade de bebidas, ou do que for, sem necessitar da aprovação do Congresso, ele deixa transparecer uma visão do Estado como tutor da sociedade. Essa percepção é reforçada por algumas entrevistas, em que, além de defender essa intromissão estatal, o ministro demonstra nada entender de formas modernas e democráticas de solução de conflitos, como é a auto-regulamentação.

No caso, José Gomes Temporão se choca com o Conselho Nacional de Auto-Regulamentação, o Conar, entidade com fé pública, de longa tradição, na qual anunciantes, agências de publicidade e veículos de imprensa deliberam sobre reclamações de pessoas comuns contra anúncios, conflitos entre empresas concorrentes, e tem poderes de agir por conta própria sempre que considerar uma publicidade inadequada.

O Conar já baixou normas específicas para a publicidade de bebidas e está sempre aberto à negociação. Mas o ministro prefere a ação salvacionista - mesmo que inconstitucional - do Estado. Move o ministro uma causa nobre, a luta contra o alcoolismo. Mas a ausência de publicidade e a coerção estatal não poderão ajudá-lo.

Se pudessem, a doença não teria chegado a se converter em emergência nacional na Rússia durante o fechado e ditatorial regime soviético.



Outra Opinião

Base legal - advogado Ricardo Lima Cardoso

O decreto nº 6.117, de 22 de maio de 2007, publicado no Diário Oficial da do dia 23, aprovou a Política Nacional sobre o Álcool, cujo objetivo é estabelecer medidas estratégicas para o enfrentamento dos problemas relacionados ao consumo de álcool, contemplando ações para a redução dos danos associadas ao uso prejudicial de bebidas alcoólicas na população brasileira.

No conjunto das vinte diretrizes contempladas no citado decreto, estão o incentivo à "regulamentação, ao monitoramento e à fiscalização da propaganda e publicidade de bebidas alcoólicas, de modo a proteger segmentos populacionais vulneráveis ao consumo de álcool em face do hiato existente entre as práticas de comunicação e a realidade epidemiológica evidenciada no país".

Por isso, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) está inclinada a publicar uma proposta de alteração da regulamentação dos anúncios publicitários de bebidas alcoólicas no país. Os países democráticos controlam de alguma forma a publicidade através de sistema exclusivamente estatal, sistema exclusivamente privado ou o sistema misto.

O misto surge da composição entre os dois primeiros sistemas, sendo o primeiro executado pelo Estado (administração pública ou Judiciário) e o segundo pelos organismos regulamentadores.

Essa regulação estatal não viola o direito de livre manifestação e criação, pois integra o leque das atividades da ordem econômica e financeira disciplinado pela Constituição federal, que visa à proteção do consumidor (artigo 170). Há de se ressaltar que no Brasil os termos publicidade e propaganda são utilizados indistintamente no dia-a-dia, passando despercebidos até mesmo pelos órgãos especializados na defesa do consumidor. No entanto, o Código do Consumidor cuida tão-somente da publicidade. Isto porque a publicidade tem um objetivo comercial voltado para a difusão de uma mercadoria específica, enquanto a propaganda tem um fim ideológico, voltado para a difusão de uma idéia (como, por exemplo, a propaganda política).

Portanto, pelo seu cunho comercial, nossa publicidade precisa ser regulada, em especial pela ótica da proteção do consumidor, a parte vulnerável da relação de consumo.

Duro ataque de Blair irrita jornais britânicos

Primeiro-ministro havia acusado a mídia de agir como 'besta-fera, estraçalhando pessoas e reputações'

Internacional - Fernando Duarte
Jornal O Globo - 14/06/2007

O premier britânico Tony Blair havia previsto que seu discurso de terça-feira, em que criticou a mídia britânica, acusando-a de agir como uma "besta-fera", não seria bem recebido. E estava certo. As críticas — e contundentes respostas — ocupavam ontem as manchetes dos principais jornais britânicos. Em especial, do "Independent", citado pelo premier. "O senhor diria isso, senhor Blair, se tivéssemos apoiado a sua guerra no Iraque?", perguntou o jornal, na primeira página.

Na véspera, Blair havia aproveitado um de seus últimos discursos como premier — deixa o cargo no dia 27 — para fazer um duro ataque à mídia. Ele não apenas criticou o que chamou de obsessão dos jornais com o impacto das notícias, como sugeriu a criação de mecanismos reguladores para "buscar mais compromisso com a verdade do que com as vendas".

Diários lembram gosto do governo pela propaganda

Os jornais mostraram indignação, sobretudo porque a crítica veio de um político cujos dez anos de governo foram caracterizados pelo uso desenfreado de promoção através da mídia, prática conhecida em inglês como spin. E, como lembrou um editorial no "Sun", a tática nem sempre foi marcada por escrúpulos.

O "Sun" mencionou o vazamento de um e-mail de um assessor de Blair enviado poucas horas após os ataques de 11 de Setembro, em que falava sobre uma oportunidade única para "enterrar más notícias". Já o editor de política do "Daily Mirror", Kevin Maguire, foi mais incisivo: — Blair levou o Reino Unido à guerra no Iraque com uma mentira, bloqueou um inquérito sobre corrupção na compra de armas pelas Forças Armadas e era viciado em promoção. Pare de querer nos dar lição de moral, primeiro-ministro.

No discurso, Blair destacou cinco pontos. Ele argumentou que escândalo e controvérsia têm precedente sobre a reportagem comum; que atacar supostos motivos das pessoas é mais potente do que atacar seu julgamento ou erro; que a mídia caça em bando; que comentários são tão importantes quanto notícias; e que freqüentemente os dois são confundidos: — Opinião e fato deveriam estar claramente separados. A verdade é que grande parte da mídia hoje não apenas omite os dois, mas o faz como algo rotineiro. A metáfora para este novo gênero de jornalismo é o "Independent" — disse Blair.

Simon Kelner, diretor do "Independent", acha que o que mais exasperou o premier foi a oposição do jornal à guerra no Iraque. "Após uma década de propaganda e contrapropaganda, de dossiês evasivos, de enterrar más notícias, de manipulação e desinformação, sentimos que a necessidade de interpretar e comentar a versão oficial é mais importante que nunca."

Para o diretor do semanário conservador "The Spectator", Matthew d’Ancona, "o Novo Trabalhismo estava feliz em dançar com a mídia até algo começar a dar errado". Ele se referia à publicação de dossiês sobre o Iraque e à investigação do suicídio de um especialista que acusara o governo de exagerar a ameaça das armas de Saddam Hussein.

O "Guardian" usou denúncias sobre propinas de um fabricante de armas britânico a um saudita como prova do valor da imprensa livre. Curiosamente, o "Times", apesar de ter a foto de um colunista substituída por um lobisomem para ironizar o comentário de que a mídia às vezes se comporta como "besta-fera, estraçalhando pessoas e reputações", fez mea-culpa: "A mídia, em ritmo de 24 horas, pode resultar num estouro de boiada que muitas vezes se torna um espetáculo deplorável. Ninguém é perfeito, e jornalistas também devem ter responsabilidade."

Para Peter Horrocks, diretor de noticiários da BBC, "Blair diz que líderes se sentem sobrepujados pela mídia, mas é interessante perguntar se cabe a eles decidirem até que ponto querem se sentir sobrepujados".

TVs se autocensuram para ter classificação livre

Filmes, novelas e seriados têm cortes de cenas de nudez e violência; medida visa adequação às exigências do governo

País - Demétrio Weber
Jornal O Globo – 17/06/2007

Para se adequar às exigências da classificação indicativa do Ministério da Justiça, as emissoras de TV aberta têm que praticar autocensura e cortar cenas de violência e nudez. As alterações têm um objetivo: tentar enquadrar filmes, seriados e novelas nas categorias de classificação definidas pelo Ministério da Justiça. A prática começou a ser adotada antes mesmo da edição pelo ministério da portaria 264, que provocou polêmica e reações em fevereiro deste ano. No centro da discussão está a vinculação entre a faixa etária recomendada para os programas e seu horário de veiculação.

Uma liminar do Superior Tribunal de Justiça (STJ), concedida inicialmente em 2000 a pedido da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), impediu que haja vinculação entre a faixa etária atribuída pelo governo e o horário de exibição. A decisão anulou os efeitos de portaria editada no governo Fernando Henrique. No governo Lula, a portaria 264 reeditou a vinculação, mas a entrada em vigor dessa medida foi adiada diante das críticas.

Seriados como "O Vidente" e "Smallville", exibidos pelo SBT, já tiveram trechos cortados para garantir a sua reclassificação para a categoria livre. O mesmo ocorreu com os filmes "Pocahontas - o Encontro de Dois Mundos" e "A Onda dos Sonhos", da TV Globo; a novela "Paixões Proibidas", da Band; e a série "Zorro - La Espada y la Rosa", da rede Record.

Os cortes dos programas estão detalhados nos pareceres em que o Ministério da Justiça define a classificação por faixa etária. O GLOBO teve acesso a alguns deles, depois de uma semana de negociação com o Dejus. Primeiro, o departamento alegou que os pareceres não eram públicos. Mais tarde, liberou a consulta e informou que, a partir de agora, o entendimento do Departamento de Justiça, Classificação, Títulos e Qualificação (Dejus) é de que qualquer cidadão poderá fazer o mesmo.

SBT reeditou seriado para ter classificação livre

O seriado "O Vidente", que é exibido nas manhãs de domingo, teve episódios classificados, no ano passado, como impróprios para menores de 12 e 14 anos. Os analistas do Dejus consideraram que havia inadequações como agressão física, assassinato e imagens de um procedimento cirúrgico que impossibilitavam atender ao pedido de classificação livre.

O SBT reeditou os episódios, cortando as cenas que haviam motivado a classificação indesejada. "Tomamos a liberdade de proceder a alguns ajustes que em nada prejudicam o fiel entendimento do produto final", diz carta enviada ao Dejus. O texto lista as "cenas cortadas" em cada episódio, indicando o tipo de conteúdo excluído e o tamanho do corte, que pode durar apenas dois segundos ou chegar perto de meio minuto. Num dos episódios, foram feitos 27 cortes, excluindo cenas de erotismo, nudez, agressão física, assassinato e exposição de cadáver.

Com as alterações, o ministério mudou seu entendimento e acabou reclassificando os episódios como livres. Num dos relatórios, os analistas escreveram: "tal cena é amenizada em função de cortes realizados... não sendo mostrado o homem atingido, tampouco seu ferimento".

O advogado e consultor da Abert Antônio Claudio Ferreira Netto afirma que esse procedimento indica o tamanho da pressão a que as empresas estão submetidas: - Embora as emissoras não admitam que o ministério tenha poder para impor horários, o que é inconstitucional, elas têm seu público-alvo, entendem que a classificação é um instrumento para os pais e não querem que a obra seja privada desse público. As emissoras vivem submetidas a uma pressão grande do órgão classificador.

"Os cortes são feitos espontaneamente"

O diretor do Dejus, José Eduardo Elias Romão, rechaça a acusação de censura e diz que os cortes são realizados voluntariamente pelas emissoras, que são obrigadas a informar a idade mínima a que se recomenda cada programa. - Os cortes são feitos espontaneamente. Respondem a interesses comerciais. A autocensura não é para proteger crianças e adolescentes - diz Romão.

O filme "A Onda dos Sonhos", adquirido pela TV Globo, foi classificado originalmente, em 2005, como impróprio para 12 anos. Duas cenas foram cortadas, excluindo um "gesto obsceno" e "linguagem inadequada". A obra foi reclassificada como livre em maio de 2007. A TV Bandeirantes também solicitou nova análise da novela "Paixões Proibidas". "Existe uma grande expectativa do público em poder rever a trama em horário menos tardio. Essa razão nos leva a solicitar a V.S.ª uma reanálise de uma versão editada", diz carta enviada ao Dejus.

A classificação indicativa está no centro de uma polêmica entre emissoras de TV, classe artística, Ministério da Justiça, movimentos sociais, pais e telespectadores. De um lado, há acusações de que a classificação, na verdade, não passa de censura, ao vincular os horários de exibição à classificação por faixa etária. Ou seja, que uma novela considerada imprópria para menores de 12 anos, por exemplo, só possa ser exibida após as 20 horas. De outro, há o argumento de que é preciso proteger a infância e a juventude da exposição a conteúdos inadequados e dos exageros da guerra pela audiência.

- A censura nunca vem se apresentando como instrumento de opressão. Ela se apresenta como defensora da família, do cidadão. Depois que instala, vira instrumento de arbítrio e imposição de interesses estatais sobre o cidadão - diz Ferreira Netto.



Dos 26 classificadores, dez são estagiários

Analistas do Ministério da Justiça ganham de R$390 a R$1.100 mensais

País - Demétrio Weber
Jornal O Globo – 17/06/2007

Antes ou depois de ir ao ar, a programação de TV passa pelo crivo de uma equipe de 26 analistas do Ministério da Justiça, incluindo dez estagiários. Eles respondem pela classificação indicativa, ou seja, têm a tarefa de definir a idade mínima recomendada ao público de cada programa. Sua palavra orienta não só as famílias, mas anunciantes e emissoras. Se a Justiça der ganho de causa ao governo em julgamentos que estão prestes a ocorrer no Superior Tribunal de Justiça e no Supremo Tribunal Federal, a classificação passará a determinar também o horário de exibição. Nesse caso, uma novela imprópria para menores de 14 anos, por exemplo, só poderia ir ao ar após as 21h.

A maioria dos analistas tem menos de 30 anos. O mais jovem, Lucas Brasil, de 19, é estudante do 3º semestre de ciências sociais na Universidade de Brasília (UnB). - É uma responsabilidade muito grande. Não queremos transformar a sociedade numa utopia ética ou moral, até porque ética e moral são conceitos relativos. Tentamos ajudar na busca de um mínimo de bom senso, pensando nas crianças.

Os analistas atuam em duplas, confinados em salas de menos de nove metros quadrados, no 3º andar do prédio anexo ao ministério. Sentados em cadeiras de escritório, ficam a menos de dois metros de aparelhos de TV de 14 a 29 polegadas. Eles assistem a filmes, seriados, desenhos, novelas, programas de auditório, a quase tudo que vai ao ar. O expediente é de seis a oito horas por dia. O salário vai de R$390, para estagiários, a cerca de R$1.100 para os funcionários, que são terceirizados.

O analista Edson de Oliveira Júnior, de 42 anos, não acha que faz censura: - A gente não corta nada nem pede para cortar. Apenas indicamos a faixa etária recomendada - diz Edson, que é formado em administração de empresas.

O Manual da Nova Classificação Indicativa orienta os relatórios de análise. O texto, elaborado com a Agência de Notícias dos Direitos da Infância (Andi), busca definir critérios objetivos para a classificação, como o percentual de cenas violentas ou de nudez tolerável para cada categoria: especialmente recomendado, livre, menores de 10, 12, 14, 16 e 18 anos. - Não tem achismo - diz a coordenadora de Classificação Indicativa, Maria Celva Reis, convencida de que há desinformação sobre a classificação.

- O manual é confuso, subjetivo e de um dirigismo estatal que é totalmente incompatível com a liberdade de expressão prevista na Constituição - diz o consultor da Abert, Antônio Claudio Ferreira Netto. O manual contém regras curiosas. A punição de criminosos ou a discussão sobre a prevenção da Aids são atenuantes, isto é, podem reduzir a classificação etária. E cenas de nudez e violência podem ser atenuadas ou agravadas de acordo com a trilha musical ou a sonoplastia.

- Claro que há conceitos indeterminados e subjetividade. O problema é quando o Estado decide exclusivamente com base nos sujeitos que trabalham para o Estado. Tentamos evitar isso, objetivando o processo de análise e garantindo o contraditório - diz o diretor do Departamento de Justiça, Classificação, Títulos e Qualificação do ministério, José Eduardo Romão.

Amanhã termina o Femina

O Festival Internacional do Cinema Feminino, o Femina, está acontecendo na Caixa Cultural, localizada na avenida Almirante Barroso, n° 25, Centro/RJ. A mostra é formada por sessões em cinema e vídeo de filmes dirigidos por mulheres. Confira a programação no site.

sexta-feira, 22 de junho de 2007

Wando para Marta: bem-amada quer chegar cedo

Passageiros, como o cantor, e órgãos de defesa do consumidor reclamam do 'relaxa e goza' da ministra do Turismo

País - Erica Ribeiro, Mirelle de França e Cristiane Jungblut
Jornal O Globo - 15/06/2007

Nem o pedido de desculpas adiantou para fazer o povo relaxar. Um dia depois de ter aconselhado a população brasileira a "relaxar e gozar" diante da crise dos aeroportos, a ministra do Turismo, Marta Suplicy, foi alvo de protestos que partiram de passageiros — até o cantor e compositor Wando, conhecido pelo conteúdo erótico de suas canções para o público feminino, reclamou —, de órgãos de defesa do consumidor e do Congresso. Criticada por sua declaração polêmica, Marta deixou os viajantes brasileiros com uma sensação ainda maior de impotência frente aos constantes atrasos de vôos.

— As mulheres bem-amadas gostam de chegar cedo em casa. Hoje, é preciso viajar 24 horas antes do previsto para não chegar atrasado nos lugares. Eu mesmo faço isso. Mas, com essa declaração, certamente a ministra não tem necessidade de cumprir horários — disparou Wando, conhecido defensor do prazer em suas canções, ao desembarcar no Aeroporto Santos Dumont.

O cantor e compositor disse que a ministra do Turismo não conhece de perto a realidade de quem fica horas esperando nos aeroportos para viajar.

Pro Teste vê descaso com problemas dos consumidores

Acostumada a brigar pelos direitos dos consumidores, a advogada da organização Pro Teste, Maria Inês Dolci, também lamentou a frase: — Foi uma declaração infeliz, que mostra o descaso e o desrespeito da ministra com os problemas que vêm sendo enfrentados pelo consumidor. Para a advogada, a declaração reforçou o sentimento de que a crise aérea está longe de ser solucionada.

O engenheiro metalúrgico Oscar Gonsalez, que embarcava ontem no Santos Dumont, até que teve senso de humor. Segundo ele, há coisas muito melhores para se conseguir relaxar e gozar do que ficar esperando nos aeroportos:— Essa recomendação da ministra certamente não é a mais recomendada.

Já a dentista Ana Amélia Catalano de Souza não gostou da piada de Marta. Considerou a declaração da ministra um descaso com os usuários do transporte aéreo brasileiro: — Seria muito melhor ela dizer algo compatível com sua posição no governo do que fazer uma afirmação dessas. É um absurdo.

O psicanalista Alberto Goldin tentou encontrar explicações para o tom erótico da afirmação polêmica de Marta. Para o especialista, o teor da declaração foi "grave e sério"."— Da forma como se disse, houve uma banalização da situação, como se a ministra orientasse a população a adotar uma posição e uma saída masoquista, ou seja, sofram mas gozem. Leva a crer que o melhor seria tolerar tudo que vem acontecendo de ruim, como as roubalheiras e a impunidade — afirmou, lembrando que a frase dita por Marta lembra um ditado de gosto ainda pior: "Se o estupro é inevitável, relaxa e goza."

— É defender que todos tenhamos uma postura passiva diante de tudo que acontece — concluiu o psicanalista.

A sexóloga Regina Navarro Lins foi a única que aliviou o comportamento de Marta. Segundo ela, o fato de a ministra ser sexóloga pode ter influenciado os termos usados: — A verdade é que, cada vez mais, falar de sexo tem se tornado uma coisa natural. As censuras estão afrouxando. Acontece que sexo ainda é tabu para muita gente, e sempre teremos os moralistas e os hipócritas.

No Congresso, os parlamentares, especialmente de oposição, consideraram a receita de Marta um desrespeito à população. Na CPI do Apagão Aéreo da Câmara, o deputado Vic Pires Franco (DEM-PA) apresentou requerimento pedindo a convocação da ministra para explicar o que a pasta tem feito para melhorar a situação dos turistas. No Senado, Jefferson Peres (PDT-AM) disse que Marta debochou dos brasileiros e que deveria ter entregado o pedido de demissão com a nota oficial de desculpas: — O que ela fez é indesculpável, é impensável. E não foi frase impensada, não. É o desprezo pelos outros.

Já Pires disse que Marta tratou com desrespeito milhares de passageiros. Na verdade, o deputado só resolveu apresentar o requerimento chamando a ministra para falar depois que o deputado Carlos Zarattini (PT-SP) reagiu às críticas dos colegas a respeito da declaração de Marta no dia anterior.

Se não atingir o prazer...

ATRASO: um dos problemas mais comuns é o atraso dos vôos. Nesse caso, a companhia deve acomodar o passageiro em outro, seja da própria empresa ou não, em no máximo quatro horas. Após esse prazo, a empresa é obrigada a providenciar alimentação, transporte e hospedagem e reembolsar gastos com telefonemas.

BAGAGEM: Em caso de extravio, a empresa tem até 30 dias para a localização e a entrega da bagagem. Após esse tempo, o passageiro deve ser indenizado.

REEMBOLSO: O bilhete, inclusive o eletrônico, é a garantia do passageiro. Em caso de cancelamento, o passageiro será reembolsado com a quantia efetivamente paga e atualizada. Se for um bilhete internacional, o valor será calculado com base no câmbio do dia, em até 30 dias a partir da solicitação.

Google compra distribuidora de conteúdo online Feedburner

Tecnologia - Terra - 01/06/2007

O Google confirmou na sexta-feira que está comprando a Feedburner, empresa de distribuição e publicação de conteúdo online.

Os termos do acordo não foram revelados. Recentes relatos de blogs colocaram o preço do potencial acordo em cerca de 100 milhões de dólares, mas a informação não foi confirmada.

A Feedburner, de Chicago, é pioneira no mercado de tecnologia de publicação de informações para outros sites, usando uma tecnologia conhecida como Really Simple Syndication (RSS). Seus clientes incluem o Wall Street Journal, a BBC e a Amazon.com.

quinta-feira, 21 de junho de 2007

Divisão na mídia

Negócios & cia – Flávia Oliveira
Jornal O Globo – 15/06/2007

Em 2006, a receita dos canais tradicionais de mídia foi de US$455 bilhões no mundo, enquanto a de novas mídias ficou em US$55 bilhões. Essa equação se inverte, porém, quando o foco está na taxa de crescimento anual de cada parte: 6% no caso das tradicionais contra 23% nas novas, até 2010.

As estimativas são do estudo "Navegando através da divisão da mídia", elaborado pela Global Business Services, divisão da IBM, que ouviu 75 executivos e analistas de mídia, além de economistas, em Europa, EUA e Ásia. A pesquisa identifica quatro modelos de negócios em evidência no segmento, do tradicional ao ligado a novas plataformas (como o YouTube). E que irão cada vez mais se combinar.

A recomendação é usar os desafios desse cenário como oportunidade para crescer. A morosidade da indústria da música na transição para a distribuição eletrônica, por exemplo, pode resultar em perdas de até US$160 bilhões entre 1999 e 2010, afirma o estudo.

— Pela tendência, cresce a geração de conteúdo profissional distribuído por novos meios — diz a consultora Manzar Feres.

A pesquisa traz uma lista com dez recomendações (veja abaixo) para enfrentar a competição com os novos players nesse mercado. A tendência internacional vale no Brasil, mas com atraso. Resultado do cenário econômico e da exclusão digital.

Novos mandamentos:
1 – ter foco no consumidor
2 – usar dados sobre o consumidor como vantagem competitiva
3 – oferecer controle para ganhar participação
4 – fornecer experiências e não apenas conteúdo
5 – promover ambientes virtuais
6 – inovar em modelos de negócios
7 – investir em interatividade
8 – redefinir parcerias para minimizar perdas
9 – mudar investimentos de negócios tradicionais para novos
10 – criar um projeto flexível de negócio
Fonte: IBM Global Business Value

"Reality show" holandês para doação de órgãos era farsa

Cultura - Deutsche Welle - 02/06/2007

O "reality show" De Grote Donorshow, transmitido nesta sexta-feira (02/06) pela emissora de televisão holandesa BNN e que prometia doar um rim ao vencedor, foi uma farsa destinada a conscientizar o público sobre a importância da doação de órgãos.


Segundo a emissora, o objetivo foi atingido: 1,2 milhão de espectadores teriam assistido ao show. O programa causou polêmica e protestos durante esta semana porque, segundo informações veiculadas pela mídia, se trataria de um concurso ao vivo, no qual um doente terminal de câncer poderia escolher, no final, entre três candidatos a receber um de seus rins.

Várias lideranças políticas da Holanda que haviam criticado a proposta do programa, neste sábado o elogiaram por ter aberto o debate sobre a escassez de doadores de órgãos no país. Durante a exibição do programa, cerca de 12 mil pessoas teriam preenchido um formulário pelo qual se tornaram doadoras de órgãos.

segunda-feira, 18 de junho de 2007

Novo filme de Michael Moore ataca sistema de saúde dos EUA

Diretor de "Fahrenheit - 11 de Setembro" volta aos temas políticos em "Sicko". As seguradoras americanas já preparam o contra-ataque.

Cultura - G1 - 27/05/2007

Poucos deles virão a tornar-se fãs de Michael Moore. Mas alguns funcionários da indústria de seguros e das companhias de saúde privadas reconheceram nesta semana que o documentário "Sicko", a denúncia de Moore sobre o sistema de saúde nos EUA, cutuca a opinião pública já amplamente preocupada com o fato de que o sistema não funciona para milhões de americanos.

O filme apresenta uma série de histórias comoventes para ilustrar falhas sistêmicas e erros na indústria de planos de saúde do país – mesmo que muitas das maiores evidências sejam as mesmas que já foram denunciadas amplamente em todos os lugares e em alguns casos datem de 20 anos atrás.


cena do documentário: casal saindo do hospital Londrino


Saúde e Iraque

O filme, que será lançado nos EUA em 29 de junho, depois de uma campanha publicitária bem calculada por Moore, chega no momento em que o sistema de saúde se torna a principal preocupação doméstica nas eleições nacionais, perdendo apenas para a guerra no Iraque. Apesar de ainda não terem visto o filme, especialistas da indústria americana têm acompanhado a produção de perto, por meio da imprensa.



Sem comentar sobre as principais críticas do filme sobre o sistema de planos de saúde, a Associação dos Planos de Saúde dos Estados Unidos, um grupo de Washington, sugeriu que a discussão levantada pelo filme pode antecipar o interesse da indústria em obter mais dinheiro do governo para atender pessoas sem seguro de saúde.

"Se o filme resultar em que membros do Congresso e governadores coloquem o assunto sobre a mesa como prioridade número um, tomaremos parte nessa discussão e lhe daremos boas-vindas", diz Karen Ignagni, presidente do grupo de planos de saúde.

Uwe E. Reinhardt, economista de saúde na Universidade de Princeton, disse, baseando-se nas resenhas, que o filme é "exagerado, mordaz e injusto", mas acrescentou que vários livros e relatórios recentes publicados por acadêmicos têm sido tão críticos quanto a produção do diretor de "Roger & Eu", "Tiros em Columbine" e "Fahrenheit 11 de Setembro".


Veja o trailler:

'Sete Pecados' no Second Life

Autor de "Sete pecados", próxima novela das 19h da Globo, Walcyr Carrasco promete que sua história passará longe dos folhetins tradicionais, com um herói, uma mocinha e um vilão. Mas, antes mesmo da estréia, programada para hoje, a novela já começou inovando: o lançamento foi realizado numa festa virtual no Second Life, um misto de game e site de relacionamento que está cada vez mais popular no país e no mundo.

— Adorei a idéia. Na verdade, desde o começo eu quis o Second Life. É uma idéia nova para uma novela nova. Acho que dá a marca da vanguarda — festeja Carrasco.

No Second Life, o usuário tem que criar um avatar, um personagem que obedece ao seu comando e interage com outros num mundo virtual. Os avatares foram convidados pela Globo a participarem da festa, que aconteceu ontem, num estúdio virtual da emissora e teve música, clipes e animação.



Para entrar no evento, era preciso ter uma camiseta que foi distribuída aos avatares que se aproximam de um avatar-sanduíche, versão SL de homens-sanduíche, aqueles que utilizam placas promocionais do tipo "compro ouro" e assemelhados, nas proximidades de um outdoor que a rede Globo instalou na Ilha Berrini.


O elenco de "Sete pecados" estava na festa usando os nomes de seus personagens. Os avatares "conversaram", por exemplo, com a Beatriz (Priscila Fantin), o taxista Dante (Reynaldo Gianecchini) ou a dona-de-casa Clarice (Giovanna Antonelli) — o triângulo amoroso da novela.

Veja como foi na página da novela.