domingo, 24 de junho de 2007

Trilhas da nova web

Internet vai mudar nos próximos anos e tende a engolir telefone, televisão e a realidade 'eletro-doméstica' como a conhecemos. Nada será como antes.

Tecnologia - André Machado
Jornal O Globo - 11/06/2007


Afinal, para onde anda o ciberespaço? Recentemente, aconteceu no Rio o 9oEncontro de Profissionais da Internet, promovido pela Locaweb, um dos gigantes de serviços web no país, e o "Info Etc" conversou com um de seus fundadores, Gilberto Mautner, sobre os rumos desse mercado. Também estivemos na chegada da empresa canadense Mitel, ao Brasil, onde testemunhamos uma demonstração da convergência IP que alavanca o mercado corporativo e também pode determinar trilhas pertinentes na comunicação de rede. Segundo a consultoria IDC, até 2010 se estima que virão somente de Brasil, Rússia, Índia e China mais de 250 milhões de internautas.

Para Gilberto Mautner, que é Chief Information Officer da Locaweb, além de vice-presidente de tecnologia e novos negócios, o Brasil ainda engatinha e precisa correr atrás de uma inclusão digital de alto nível.

— Há um crescimento acelerado de usuários em geral, mas quantidade de pessoas que usam a internet como ferramenta de negócio ainda é muito tímida — diz ele. — Se você entrar no Registro.br, encontrará aproximadamente um milhão de domínios .com.br inscritos. Acho que isso é nada num país de 180 milhões de habitantes. É uma proporção de 1 para 180. Na pequena Bélgica, a proporção é 1 para 3.
Segundo ele, o mercado web cresceu 20% no último ano, mas está, de fato, em seus primórdios por aqui.

Veja-se a banda larga, com apenas seis milhões de usuários. Ao menos, em relação ao estouro da bolha, sete anos atrás, houve um amadurecimento do mercado mundial, com um crescimento realmente sustentado, embora mais lento.
— A própria Nasdaq, depois da loucura da bolha no fim dos anos 90, está agora quase atingindo o ponto de negócios daquela época — conta Mautner. — Se então esse nível foi considerado o ápice, agora que a internet virou ferramenta de negócios ele tende a continuar subindo.

Algumas tecnologias vão ajudar a internet nessa caminhada. Uma delas é a voz sobre IP. Hoje, diz Gilberto, pagar voz por minuto não faz mais sentido. No longo prazo, a telefonia deverá ser engolida pela internet.
— Taí o Skype que não me deixa mentir, tanto que lançamos um PABX virtual em nossos serviços de hospedagem — diz. — A VoIP passará a ser um veículo de aplicativos, não apenas uma alternativa à voz paga.

Um superescritório totalmente movido a voz sobre internet

Uma prova de que a VoIP é o caminho para aplicações e convergência está na chegada da Mitel no Brasil. Não que a tecnologia já não esteja no maior "hype" no mundo corporativo, mas a diferença da solução Mitel é que ela foca nas pequenas e médias empresas, e suas soluções brigam direto com as grandes operadoras porque economizam na infra-estrutura apostando num software único de stream de voz.

— Nossa filosofia é levar o computador para dentro do telefone — diz Gilles Rousso, vice-presidente da empresa para América Latina e Caribe.
Mas também se pode inverter essa idéia, diante da demonstração da rede convergente que a empresa fez em sua sede na Torre Rio Sul: eles querem botar todos os serviços IP via telefone dentro do PC.

O software Your Assistant, parte da solução, é uma potência: dentro do seu perfil — por enquanto, no trabalho — o usuário pode ver, na tela de seu computador, as chamadas telefônicas não atendidas nos momentos em que saiu, atender a telefonemas, fazer chat, fazer áudio e videoconferências, mandar emails, mensagens instantâneas e compartilhar documentos de escritório em formatos consagrados, como Word ou PowerPoint.

Tudo isso pode ser ligado a PDAs e telefones wireless via IP, bastando um ponto de acesso WiFi para completar a trajetória IP sem fio. Há uma outra solução que une desktop e telefone, chamada Navigator, que permite configurar teclas para abrir programas ou sites-chave (como um Google) com um toque. Por enquanto, é para o mercado SMB, mas, como diz Rousso, poderia ser instalada e configura em casa, pelo usuário doméstico, pois custa menos de US$ 500 (ao menos sem os impostos escorchantes do Brasil).

Por falar em Google, a gigante das buscas também está de olho nas funções office ligadas à rede, tanto que o seu Google Gear, recém-lançado, permitirá a usuários trabalhar offline em documentos de texto etc sem fechar o browser (usando uma extensão para esse fim acoplada ao próprio navegador).

Depois do avanço avassalador da voz, veremos a era do vídeo, que já começou com o YouTube.
— Assim como a internet está engolindo a telefonia, com a televisão acontecerá a mesma coisa — vaticina Mautner. — Hoje as pessoas falam de IPTV, mas dentro do novo modelo IP está sendo aplicado o modelo antigo de TV.

Isso não é, com certeza, a cara da internet. O modelo de vídeo deverá se adaptar ao da rede. Para Mautner, assim como hoje se paga uma taxa mensal para ter um serviço web de hospedagem de sites, da mesma forma se pagará, no futuro, para se ter uma TV pessoal na internet. (Vale lembrar que, em termos de vídeo na web, além do YouTube, o pessoal do Skype também marcou tentos com a criação do Joost, nova forma de assistir à TV sob demanda.)

Mas e a TV digital? — Esse é o suspiro final da televisão convencional. Vai durar alguns anos — justamente o tempo que a banda larga precisará para engoli-la — diz Gilberto. — Se mesmo hoje, nos grandes centros, com 8Mb de banda, já dá para receber sinal de TV com qualidade, é uma questão de tempo para isso se alastrar. Hoje, no modelo tradicional, a rede e o conteúdo estão juntos. Mas creio que isso vai mudar. O conteúdo será injetado nas redes que já existem.

Novas interfaces móveis e programas como um serviço

Há ainda a questão da mobilidade, da periferia da rede repleta de celulares, PDAs e outros gadgets. Tudo deverá convergir para IP, na verdade já está convergindo, mas a banda sem fio ainda é relativamente estreita em relação a coisas como ADSL, diz o CIO. E há que resolver o problema da interface. Este lado da questão foi tratado, inclusive, no recente encontro entre Bill Gates e Steve Jobs na Califórnia. Para Jobs, sempre um visionário da indústria, os chamados aparelhos pós-computador pessoal, como celulares, PDAs, smartphones e tocadores de MP3 (e seus híbridos) é que têm a grande chance de reinventar a interface com os usuários — até mesmo porque precisam disso.

Qualquer um que tenha cansado os dedos num tecladinho para mandar um SMS mais longo sabe do que estamos falando. A própria Palm não lançou um mininotebook Bluetooth para que seus usuários editem documentos com calma? Por fim, o propalado conceito de SAAS (software as a service, ou software como um serviço) tem de ser levado em consideração. É o mundo "live" — Google Docs & Spreadsheets, Windows Live — em oposição ao "stand-alone". E padrões abertos, linguagens interoperáveis permitindo a mistura ("mashup") de softwares serviços para um fim.
— Todos devem falar a língua comum da web, os web services.

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